O ciclista natural de Viana do Castelo, Iuri Leitão, trouxe para Portugal uma medalha de prata em Omnium e uma de ouro em Madison, onde fez equipa com Rui Oliveira, nos Jogos Olimpicos de Paris em 2024. Se a essas medalhas adicionarmos o titulo de Campeão Europeu de Scratch conquistado no inicio do ano, é justo afirmarmos que as maiores conquistas do desporto português foram conquistadas em cima de duas rodas.
Quando o avião que trouxe os atletas portugueses aterrou em solo nacional, não faltaram presenças de figuras notáveis para tirar fotografias, falar do ciclismo de pista como se acompanhassem a modalidade há anos e falar de grandes planos para o futuro. Passados quatro meses de Paris, o que é que mudou no ciclismo de pista? "Nada mesmo. Esperemos que venha a mudar para melhor. Talvez seja uma questão de tempo", afirma o jovem de 26 anos ao desportivo O Jogo.
O Centro de Alto Rendimento continua sem obras ( continua a chover na pista), as infraestruturas não sofreram melhorias, os apoios por parte da federação são zero. "Se não fosse o Programa Olímpico, que é financiado pelo Governo através do IPDJ, não tínhamos qualquer tipo de financiamento. Estaríamos a competir de borla. Também não temos nada que pagar, como é lógico, mas ser ciclista de pista, mesmo na Seleção, não é vantajoso financeiramente", diz.
As palavras que mais se ouviram nas horas que se seguiram à conquista do ouro nos Jogos Olimpicos de Paris, eram vozes que "gritavam" às entidades que gerem o desporto no nosso país olhassem para os resultados e apoiassem os atletas, pois as medalhas conquistam-se na base de muito trabalho e de condições, tanto financeiras como estruturais, coisas que em Portugal são dificeis de encontrar e nessa altura Iuri Leitão disse "Tudo se resume a dinheiro não é? O dinheiro compra material, condições, tempo. Aquilo que nos falta é porque não temos dinheiro"
Do IPDJ atribuiu a Iuri Leitão e a Rui Oliveira uma bolsa de 1750 euros mensais, mas continuam à espera que a Federação tome a iniciativa de criar o seu próprio contrato programa para o ciclismo de pista. "Essa ideia, se não me engano, partiu do nosso selecionador. Será muito mais organizado trabalhar dessa forma, tendo tudo bem definido. Com um contrato programa saberíamos exactamente com o que contar e se seria melhor para nós em termos financeiros, dando-nos alguma estabilidade."
Olhando para a pista e para o interesse que as medalhas suscitaram, há um maior interesse pela modalidade que se traduz em números." Tal como a ida aos Jogos Olimpicos, tem sido um processo. Já nos ultimos anos, com os resultados que fomos tendo, tem-se notado uma maior adesão, especialmente dos jovens, que aparecem na pista mais vezes. Mas alguns ciclistas profissionais, que já fizeram pista, têm vontade de regressar" reflecte.
"Acho que a tendencia será para aumentar e espero no futuro ter uma pista sempre cheia. É disso que estamos a precisar", diz o ciclista da Caja Rural - Seguros RGA. É certo afirmar que Portugal fica orgulhoso das conquistas dos seus atletas, mas o que as Federações e entidades competentes lhes dão em troca é uma mão cheia de nada. Tiago Ferreira, em setembro, expôs a vergonha a que o ciclismo de montanha estava submetido por parte da Federação. Irá o ciclismo de pista seguir-lhe os passos? Tem a palavra Candido Barbosa. Que faça mais e melhor que apenas promessas, porque os atletas não vivem de promessas, nem são as promessas que lhes dão estabilidade a todos os níveis e põem comida na mesa ao final do mês.