No dia 21 de julho de 2024,
Tadej Pogacar encerrou uma das campanhas mais dominantes e históricas do ciclismo moderno. A vitória no contrarrelógio final em Nice selou o seu terceiro título na
Volta a França e completou uma façanha inédita desde Marco Pantani em 1998: a dobradinha Giro-Tour na mesma temporada. Mas, como se sabe, Pogacar não ficou por aí.
Desde esse dia memorável, a paisagem do ciclismo mudou. A estrela eslovena consolidou a sua lenda, enquanto
Jonas Vingegaard desapareceu do radar. Já
Remco Evenepoel regressou à ribalta com coragem e brilhantismo.
Agora, quase um ano depois, os três titãs voltam a alinhar juntos no
Critérium du Dauphiné de 2025. A corrida arranca este fim de semana e, francamente, mal podemos esperar.
Será a primeira vez desde a 21.ª etapa do Tour do ano passado que Pogacar, Vingegaard e Evenepoel partilham a linha de partida - 322 dias depois. Naquela última ocasião, Pogacar conquistou a sua sexta vitória de etapa (sim, seis), enquanto Vingegaard venceu uma e Evenepoel brilhou no contrarrelógio. Desde então, muita coisa mudou.
Pogacar: imparável e histórico
Nenhum ciclista se aproximou da excelência ou da ambição de Tadej Pogacar. Após a vitória no Tour, o esloveno juntou o Campeonato do Mundo de Estrada ao seu palmarés, triunfando em Zurique e tornando-se apenas o terceiro homem na história a completar a Tripla Coroa (Giro, Tour e Mundial) no mesmo ano, um feito só antes alcançado por Eddy Merckx (1974) e Stephen Roche (1987).
Tadej Pogacar já está às portas do top 10 do ranking dos ciclistas com mais pontos da história
Depois de mais um triunfo na Il Lombardia, em outubro, iniciou 2025 com a mesma fome de vencer. As vitórias na Volta à Flandres e na Liege-Bastogne-Liege na primavera reforçaram a sua capacidade de vencer em todos os terrenos. Este ano, soma já seis vitórias em 14 dias de competição.
O seu registo desde o Tour do ano passado é avassalador. Chega ao Dauphiné não apenas como o grande favorito à vitória, mas também como o nome mais forte para conquistar a quarta camisola amarela em julho.
Mas, como o ciclismo tantas vezes nos mostra, tudo pode mudar num piscar de olhos.
Vingegaard: incógnita total
Jonas Vingegaard tem estado ausente. Após ser segundo classificado no Tour de 2024 e ver o seu reinado de bicampeão chegar ao fim, abandonou a Clássica de San Sebastián, voltou para vencer a Volta à Polónia em agosto... e depois desapareceu.
O dinamarquês retirou-se das corridas para celebrar o nascimento do filho e manteve-se afastado durante largos meses. Regressou apenas em fevereiro, na Volta ao Algarve, vencendo a geral, mas com dúvidas sobre a sua condição. A seguir, o Paris-Nice em março, onde sofreu uma queda, sofreu uma concussão e voltou a parar.
Jonas Vingegaard abandonou o Paris-Nice, depois de já ter liderado e de ter perdido uma etapa para João Almeida
Desde o Tour do ano passado, soma apenas quatro participações em corridas. Nenhuma desde março. O seu regresso ao Dauphiné é, por isso, envolto em total incerteza.
Vingegaard continua a ser o único ciclista que conseguiu vencer Pogacar em várias etapas de alta montanha, mas a falta de ritmo competitivo e o impacto das lesões colocam um enorme ponto de interrogação sobre o seu verdadeiro nível.
Evenepoel: a ameaça silenciosa
Já Remco Evenepoel saiu do Tour de 2024 com uma vitória de etapa e um lugar no pódio na estreia. Mas foi nos Jogos Olímpicos de Paris que atingiu o auge: venceu o contrarrelógio e a prova de estrada, tornando-se o primeiro homem na história a conquistar ambas as medalhas de ouro numa mesma edição.
Esse foi o único momento de 2024 que rivalizou com o brilho de Pogacar, e ainda é lamentável que não se tenham defrontado diretamente em Paris.
Depois disso, Evenepoel ficou em segundo na Il Lombardia e sofreu um duro golpe em dezembro: um acidente de treino com uma carrinha obrigou-o a uma cirurgia. Só regressou às corridas a 18 de abril, mas fê-lo em grande.
Venceu a Brabantse Pijl, foi terceiro na Amstel Gold Race, onde fechou um ataque a solo de Pogacar, algo raramente visto e venceu uma etapa na Volta à Romandia. A forma está a subir no momento certo.
Evenepoel entra no Dauphiné como wildcard, mas perigoso. Se continuar a evoluir, poderá ser a principal ameaça a Pogacar, tanto nesta corrida como em julho.
Tudo começa aqui
O Critérium du Dauphiné 2025, que arranca a 8 de junho, é mais do que um aperitivo para o Tour. É o reencontro dos três gigantes do pelotão. Pogacar está no auge. Evenepoel em ascensão. Vingegaard é uma incógnita.
Os dias de duelos Pogacar vs Vingegaard podem não ter acabado, mas os fãs esperam que Evenepoel consiga inserir-se nesta luta titânica.
322 dias depois... acabou a espera para os fãs de ciclismo.