No passado domingo,
Mathieu van der Poel voltou a escrever o seu nome nos livros de história do ciclismo. Ao conquistar pela terceira vez consecutiva a
Paris-Roubaix, o campeão mundial reforçou o seu estatuto de rei moderno do pavé e de um dos maiores especialistas em clássicas de todos os tempos.
A edição de 2025 do "Inferno do Norte" não foi apenas uma demonstração de poder na estrada, mas também um marco estatístico que o coloca num patamar raramente alcançado. Van der Poel tornou-se apenas o terceiro ciclista na história a vencer a Paris-Roubaix em três anos consecutivos, depois de Octave Lapize (1909-1911) e Francesco Moser (1978-1980). É o primeiro a consegui-lo em 45 anos – e fê-lo numa era muito mais competitiva e imprevisível.
Desde que se estreou na clássica francesa, Van der Poel disputou cinco edições e venceu três delas – uma taxa de sucesso de 60%. O seu pior resultado? Um nono lugar em 2022. Desde então, nunca mais saiu do pódio numa clássica com paralelepípedos.
Mas os números não ficam por aqui. Com esta vitória, o neerlandês passou a ser o único ciclista da história a vencer um Monumento empedrado em quatro épocas consecutivas:
Volta à Flandres em 2022, Paris-Roubaix em 2023, Flandres e Roubaix em 2024, e novamente Roubaix em 2025. No total, soma já oito Monumentos: três Flandres (2020, 2022, 2024), três Roubaix (2023, 2024, 2025) e duas Milano-Sanremo (2023, 2025).
Esta sequência permite-lhe ultrapassar
Tom Boonen no número total de Monumentos conquistados. E isso é particularmente simbólico, tendo em conta que Boonen é considerado o maior especialista da sua geração em clássicas empedradas. Mas enquanto o belga nunca conseguiu vencer três Roubaix consecutivas nem triunfar em Sanremo, Van der Poel já o fez — e com apenas 30 anos.
Será Mathieu van der Poel o melhor ciclista de monumentos do mundo?
Outro dado histórico: foi a primeira vez que o pódio da Volta à Flandres e da Paris-Roubaix coincidiu na mesma época. Na Flandres, Pogacar foi primeiro, seguido de Pedersen e Van der Poel. Em Roubaix, a ordem inverteu-se: Van der Poel venceu, Pogacar foi segundo e Pedersen ficou no terceiro lugar. Wout van Aert terminou ambas as corridas em quarto lugar, confirmando a consistência da elite nas clássicas da primavera.
Esta constelação de nomes - Van der Poel, Pogacar, Pedersen e Van Aert — tem dominado a era moderna do pavê, mas é Van der Poel quem está no topo da hierarquia.
Se olharmos para os dados desde 2022, apenas três ciclistas venceram as principais clássicas de um dia (os cinco Monumentos, o Campeonato do Mundo e a prova de fundo olímpica): Van der Poel (8),
Tadej Pogacar (7) e
Remco Evenepoel (4). Juntos, conquistaram 19 das últimas 22 grandes corridas de um dia — uma taxa de domínio de 86,3%.
Mas nem tudo são estradas empedradas. Apesar do seu brilhantismo em clássicas e nas pistas de BTT e ciclocrosse, Van der Poel tem um registo mais modesto na Volta a França. Desde a vitória na segunda etapa de 2021 e o uso da camisola amarela durante seis dias, ainda não voltou a vencer no Tour. Em vez disso, tem sido um precioso lançador para Jasper Philipsen, desempenhando um papel fundamental nas vitórias do colega e na conquista da camisola verde.
A edição de 2025 do Tour poderá representar uma nova oportunidade. A primeira semana apresenta várias etapas planas e explosivas, onde o neerlandês poderá finalmente voltar a erguer os braços numa grande volta. Mas, antes disso, o foco é outro.
Após a primavera, Van der Poel irá interromper a temporada de estrada para se concentrar no BTT, com o objetivo de conquistar o único título mundial que lhe falta. Atualmente, o seu currículo inclui títulos mundiais de estrada, gravilha e sete títulos de ciclocrosse, mas a camisola arco-íris do BTT continua por conquistar. O Campeonato do Mundo de BTT, em agosto, será o grande objetivo do verão.
Se o alcançar, Van der Poel terá, indiscutivelmente, o palmarés mais versátil da era moderna. E talvez de sempre.
A vitória em Roubaix é mais do que mais uma conquista. É um marco. É a confirmação de que Mathieu van der Poel está a construir uma carreira absolutamente única, com impacto em todas as disciplinas do ciclismo.
Estatísticas marcantes da vitória de 2025:
- Primeiro ciclista a vencer um Monumento empedrado em quatro épocas consecutivas;
- Terceiro a vencer três Paris-Roubaix seguidas (primeiro em 45 anos);
- 60% de taxa de vitória na Paris-Roubaix;
- Primeiro pódio coincidente entre Flandres e Roubaix;
- Ultrapassou Boonen no total de Monumentos (8-7);
- Lidera o trio dominante das grandes clássicas desde 2022.
Seja qual for o próximo desafio, uma coisa é certa: sempre que Mathieu van der Poel alinhar à partida, o mundo do ciclismo estará a assistir. Porque com ele, cada corrida é mais do que uma disputa - é história em construção.