Antigo selecionador nacional da Bélgica junta-se à equipa de Evenepoel: “Remco conhece suficientemente bem a minha abordagem com os jovens corredores”

O antigo selecionador nacional belga Rik Verbrugghe vai ligar o seu futuro à R.EV Brussels Cycling Academy em 2026, a estrutura de desenvolvimento gerida por Remco Evenepoel e pelo seu pai, Patrick Evenepoel.

A R.EV Brussels Cycling Academy é uma academia em Bruxelas que procura tornar o ciclismo acessível a jovens desfavorecidos da cidade. Fornece bicicletas a crianças de famílias carenciadas e forma jovens ciclistas competitivos com treino em estrada e BTT.

“O objetivo da academia não é que se tornem ciclistas, mas que descubram a bicicleta. O nosso sonho é que um jovem de Bruxelas da R.EV Brussels Cycling Academy seja selecionado para o Campeonato do Mundo de Ciclismo de 2030, em Bruxelas”, anunciou Evenepoel em 2023, quando o projeto foi apresentado.

“Fui convidado pelo Remco e pelo pai para aconselhar os seus jovens talentos no contrarrelógio”, explicou Verbrugghe ao Wielerflits. “O Remco é um contrarrelogista puro, por isso não é ilógico que a equipa aposte totalmente nessa área. O que o Remco sabe fazer, queremos transmitir aos jovens talentos. Têm de saber como abordar um ‘crono’ para poder competir ao mais alto nível no futuro. A federação belga promove isto há muito tempo, razão pela qual temos tantos contrarrelogistas fortes no nosso país”.

A escolha da família Evenepoel em envolvê-lo não surpreende. Com cinco vitórias em contrarrelógios na carreira (campeonatos nacionais belgas, Volta a Itália, Volta à Romandia, Eneco Tour e Critérium International), Verbrugghe tem experiência comprovada na especialidade e continuou a desenvolvê-la em todas as equipas por onde passou.

“Há também um vínculo pessoal com o Evenepoel”, recordou Verbrugghe. “Fui o primeiro selecionador a levar o Remco a um Campeonato do Mundo. Em Yorkshire, conquistou de imediato a primeira convocatória profissional pela seleção, porque acreditei nele. Conheço bem a família, desde jovens. Mantivemos sempre bom contacto. Penso que o Remco, pela própria experiência, conhece hoje suficientemente a minha abordagem com jovens corredores”.

Depois de um tranquilo 2025 como diretor-geral na equipa de ciclocrosse Ridley, Verbrugghe percebeu que sentia falta do ambiente da estrada. “Senti falta do contacto direto com os atletas e de poder fazer o meu trabalho nas corridas. O facto de poder trabalhar com muitos jovens e de esta equipa ter também um projeto social associado tornou ainda mais fácil dar este passo”.

A decisão não foi tomada de ânimo leve, e anunciou também que vai colaborar com outras equipas de jovens e pouco experientes. “Decidi que em 2026 vou tentar passar a minha experiência à juventude belga. Não apenas para esta equipa, aliás. Vou também aconselhar a Walloon Pierre et Sol-OG Cycles”, anunciou. “No fim, tudo começa com uma boa formação de base. Especialmente a categoria júnior tornou-se muito importante hoje em dia. Às vezes acho isso lamentável”.

“Um corredor que não rende como júnior é quase sempre posto de lado quando se fala de um contrato profissional. Chegou-se ao ponto de a categoria júnior ter de ser tratada de forma super profissional para algum dia poder subir a uma grande equipa. Quero ajudar nisso. Equipas como a Soudal Quick-Step, Red Bull-BORA-Hansgrohe e Decathlon AG2R fazem-no internamente, mas nem todos estão logo nesse nível. Com a nossa equipa podes crescer ‘from zero to hero’ com os passos certos”, explicou.

Um percurso gradual é crucial, insiste, porque nem todos evoluem ao mesmo ritmo. “Nunca direi que todos têm de ir para o túnel de vento muito jovens. É importante que cada um dê os passos certos no momento certo. Aqui trabalhamos com corredores dos 15 aos 19 anos. Não se pode tratar um miúdo de 15 anos da mesma forma que um de 19 com hipótese de ser selecionado para um contrarrelógio do Campeonato do Mundo. Para este último, cada detalhe faz a diferença”.

Que apoio concreto vai oferecer? “Pode ir desde aconselhamento de como abordar o contrarrelógio, a ajudar a encontrar a posição certa na bicicleta e a definir que treinos devem fazer em casa no rolo. É muito importante dominar completamente a bicicleta. Entre juniores ainda há muito a evoluir. Na minha opinião, ainda se faz pouco nessa categoria”.

Verbrugghe está ligado ao ciclismo há 30 anos. Iniciou a carreira profissional em 1996 na Lotto, onde ficou até 2004. Após um curto ano na Quick-Step, mudou-se para a Cofidis, última equipa antes de terminar carreira em 2008.

Em 2012, começou como diretor desportivo adjunto na BMC. Passou depois por várias equipas, incluindo IAM Cycling, Bahrain Merida e Israel - Premier Tech. Liderou também a seleção belga entre 2019 e 2021.