A época de 2025 foi a melhor de
Quinn Simmons até agora. Venceu etapas na Volta à Catalunha e na Volta à Suiça; ajudou o amigo Mattias Skjelmose a grandes triunfos; encontrou consistência e o melhor nível de sempre; e até mediu forças com
Tadej Pogacar em duas ocasiões.
O CiclismoAtual e o
CyclingUpToDate marcaram presença no media day da
Lidl-Trek para ouvir o campeão nacional norte-americano.
A temporada de Simmons teve exibições muito fortes e, além do que aparece no palmarés, conquistou também o prémio de melhor gregário na
Volta a França. Mas o seu verdadeiro nível apareceu na parte final do ano, depois de preparar o fim de temporada em casa, em Durango, Colorado.
Quinn Simmons foi o melhor gregário da Volta a França. Conseguirá em 2026 conquistar uma grande vitória para si próprio? @Imago
Foi terceiro no GP de Montréal,
apenas batido pelos homens da UAE, Tadej Pogacar e Brandon McNulty. Já na Il Lombardia, onde fechou a temporada, entrou na fuga logo ao quilómetro zero, deixou todos os companheiros para trás e surpreendeu em grande.
Terminou em quarto no dia, numa corrida talhada para escaladores.
O corredor da Lidl-Trek, que chegou à sala de conferências bem-disposto e sorridente, interrompeu até as palavras do colega Mathias Vacek. Depois de terminar em alta, pela primeira vez desde que é profissional, a confiança e a serenidade são visíveis...
As tuas ambições e talvez também sonhos para 2026?
Sim, acho que primeiro dei um bom passo este ano e quero, antes de mais, confirmar esse nível e depois melhorá-lo. Obviamente, há grandes objetivos, tanto nas clássicas como nas corridas por etapas. Se tivesse de apontar o principal objetivo, seria conquistar aquela etapa do Tour que me escapou este ano. Para mim, fazer outra época ao nível da última já seria um sucesso.
Podes dizer-nos algo sobre o teu programa para os primeiros meses?
Deverá ser, no geral, mais ou menos o mesmo de sempre. A Strade será o primeiro objetivo. Depois disso, ainda não definimos exatamente o caminho, mas vou apontar à Amstel. Depois faço a preparação habitual no Colorado e volto, espero, novamente com a camisola de campeão nacional para a Volta a França e tento vencer uma etapa. Mais à frente, o bloco canadiano é bastante interessante para nós, norte-americanos.
Mas é a primeira vez que apontas verdadeiramente à Amstel?
Em teoria, já a tinha como objetivo no ano passado, mas não correu assim tão bem. É uma corrida dura. Com o Skelly (Mattias Skjelmose) a vencer este ano, foi ótimo. Mas, duas horas de corrida, lembro-me de dizer no rádio: “malta, ao ritmo que isto vai é corrida de trepadores. Não vamos estar lá”. Novamente, assim torna-se obviamente difícil para mim, mas temos de tentar.
De onde vem a confiança quando fizeste o balanço do ano passado? Porque é que ainda pensas que, se for igual este ano, podes manter esse objetivo?
Porque no final do ano passado estava muito melhor do que no início. Já cedo, ganhei uma etapa na Catalunha, depois fui para casa e preparei de novo a segunda metade da época. A vitória na Suiça foi, na minha cabeça, a primeira vitória “real”, porque a da Catalunha foi um pouco estranha. Depois fui ficando melhor ao longo da Volta a França. Acho que viram no fim do ano um novo nível da minha parte. Se conseguir voltar a tirar 1-2% este inverno, talvez 1-2% menos gordura, talvez já consiga estar lá.
Tens uma relação especial com a Amstel e com Limburg, certo?
Sim, é relativamente perto de onde vivi como júnior com a seleção. Passámos lá alguns anos. Sem dúvida, algumas das minhas melhores memórias de corrida vêm desse período com os outros miúdos de 16-17 anos. Ficar pela Europa e vivê-la pela primeira vez.
O que é que descobriste em ti no final do ano? Estiveste a correr bem. O que encontraste em Montreal e na Lombardia? O que é que de lá trouxeste?
Montreal foi, na verdade, uma surpresa. Tinha feito um estágio de grande qualidade. O Mattias até foi visitar-me ao Colorado. Fizemos três semanas juntos para preparar as corridas do Canadá. Sabia que estava num bom nível. Esperava estar bem em Quebec, mas na verdade nunca terminei a corrida. Estive mal em Quebec... Em Montreal entrei com a ideia de fazer um treino longo e duro antes do Mundial. Não tinha muita pressão. À medida que a corrida avançava, fui percebendo. Não necessariamente que eu melhorasse, mas que os outros pioravam. E, de repente, estás lá.
Não vou dizer que disputei a vitória, mas pelo menos lutei para ser segundo. Numa corrida com 4000 metros de desnível, com o meu peso, estar na discussão final dá confiança. Depois fui ao Mundial e tive um mau dia. Perdi essa confiança, fui à Lombardia e recuperei-a.
É isso com o ciclismo. Vens com a confiança da última corrida e pronto.
Por isso é tão bom fechar a temporada de forma tão positiva. Todos os outros anos terminava em baixo. O primeiro ano ficou praticamente arruinado pelo COVID. No segundo, caí no Roubaix em outubro. Nos anos seguintes, terminei doente. Fechar bem e sentir que consigo superar obstáculos e desfrutar. Agora não há stress. Espero que se traduza em resultados.
Também sentes que agora é diferente por causa do bom resultado na última corrida? Notas diferenças?
Sinto-me bastante bem quando ando de bicicleta.
Não é como noutros anos, quando terminavas em baixa. Sentes-te diferente agora?
Sinto-me bem porque, quando acabas dessa forma, consegues mesmo desfrutar da pausa. Não ficas a pensar em como correu mal. E também fechas em boa forma, por isso tens menos para recuperar. É difícil dizer. Só em março poderei responder, se aparecer em boa condição. Para já, com apenas algumas semanas de treino, estou claramente melhor do que alguma vez estive nesta altura do ano. Espero que a trajetória continue. Não quero prometê-lo.
Ganhaste também confiança a caminho do Campeonato do Mundo este ano?
Sim. E, vendo a ajuda potencial que teremos à partida para os americanos, já há bastante tempo que não tínhamos uma startlist assim. É um percurso em que, provavelmente, três de nós podem lutar pelo menos por uma medalha.
Acho que, no nosso grupo, somos bons a alinhar e a apostar em quem está melhor no dia. Primeiro, espero que seja eu, mas, se não for, sempre que envergamos a camisola da seleção, lutamos a sério por essa primeira medalha. Já nem me lembro da última vez que um americano levou uma medalha nos Mundiais de Elite. Não foi durante a minha carreira, de certeza.
93?
Foi há muito tempo. Foi há muito tempo. Está na hora de mudar isso.
O que significa para ti correr com as Stars and Stripes?
Felizmente, posso fazê-lo toda a época. A da seleção é diferente. Mesmo que os Mundiais deste ano não nos tenham corrido bem, é outra experiência quando estás em seis ou melhor, todos do mesmo sítio, com uma formação parecida. É aquela altura do ano em que voltas para junto dos rapazes e as corridas voltam a saber a júnior.
Que diferença faz o facto de esta equipa ser americana e, no próximo ano, a licença passar a alemã? Muda algo para ti?
Tenho sido o único americano na equipa americana há cinco anos, por isso não muda assim tanto. Claro que gostava de ver a bandeira ao lado do nome. Não altera nada. Gostava, mas o dinheiro fala. Há quem tenha muito dinheiro.
Quinn, referiste que fizeste um estágio com o Mattias Skjelmose em Durango no ano passado. Como é a tua relação com o Mattias?
É muito boa. Temos idades parecidas. Corremos como juniores. Tem sido divertido ver a carreira dele progredir. Estive lá quando ganhou a Suiça e também quando venceu a Amstel. Para mim, é daqueles poucos no pelotão em que, quando o vês ganhar, ficas genuinamente feliz por ele. Não é só porque fica bem dizer. Na minha opinião, é dos que mais trabalha na equipa/pelotão. Motiva. Mesmo nessas três semanas, ver como não falha um passo na preparação é algo que admiro muito.
Vendo essas três semanas no Instagram, parecia haver grande química. Porque é que achas que encaixam tão bem?
Não sei. Acho que somos muito honestos um com o outro quando corremos. Uma história engraçada: quando ele ganhou a Amstel, antes da partida e nas primeiras duas horas, esteve sempre a dizer-me que estaria lá para me ajudar no final. E eu: “não, hoje é para vocês, estão a ir demasiado rápido”. Quando fui terceiro em Montreal, discutíamos quem faria o final, a tentar empurrar um para o outro: “não, deves ser tu; não, deves ser tu”. É bom ter alguém, seja o dia dele ou o meu, em quem confiamos plenamente. E damo-nos bem. Partilhamos quarto. É bom ter isso.
O que torna a Strade Bianche tão especial para ti?
Primeiro, gosto mesmo. Gosto de estar na Toscana, gosto de treinar lá. É lindíssima. Ajuda e assenta-me bem, e já me correu bem no passado. Hoje, no treino com o Mattias, falávamos disso: é aquela onde ainda não fiz o grande resultado. Estive tão perto que sinto que é possível. Mesmo sem ter acontecido, dá para coçar essa comichão. Quero continuar a tentar. É uma grande corrida. Não temos assim tantas provas enormes que nos encaixem. Gosto. E gosto de correr em Itália. Gosto dos adeptos italianos.
Li algures que disseste que o desporto é entretenimento. É importante para ti atacar e ser apelativo para quem vê as tuas corridas?
Acho que sim. No fim do dia, só somos pagos porque a TV está ligada. Tens de render e fazê-lo bem. Não podes fazer disparates, mas é um desporto em que, quanto mais olhos estiverem em nós, na equipa e nos patrocinadores, mais dinheiro todos vamos ganhar. No fim do dia, isto é a nossa carreira. Tens 10 anos, com carreiras tão curtas, para tirar o máximo. Deves isso a ti, aos patrocinadores e à equipa: representar bem e dar às pessoas algo por que torcer.
Quando o Mundial for no Canadá, também esperas um impulso no ciclismo norte-americano?
Se conseguíssemos colocar um corredor no que podemos chamar de Mundial em casa, é o Canadá, mas é perto o suficiente, já se sente um ambiente de casa com este grupo. Especificamente o Tour é praticamente a única corrida que conta para os americanos. E o facto de termos quatro ou cinco rapazes a render no Tour outra vez… Nota-se o entusiasmo das pessoas.
Vou num treino, paro numa bomba de gasolina e aparece um tipo de roupa de rancho a sair da carrinha. Nunca dirias que é fã de ciclismo. Conta-me como está entusiasmado para nos ver no Tour e como foi bonito ver lá o jersey. Em momentos assim percebe-se que o desempenho traz adeptos. Temos agora um grupo muito bom para construir em cima disso.
Simmons encerrou a época de 2025 com uma exibição magistral na Il Lombardia. @Sirotti
Quinn, com o distanciamento de dois meses, como olhas para a Lombardia? As táticas saíram como planeado e, em algum momento, sentiste realmente que podias vencer?
É curioso, vejo muita gente a questionar as minhas táticas nesse dia. Mas posso garantir uma coisa. Se espero pela última subida, nem entro no top 20, por isso acho que as táticas foram certas. Quando tens alguém como o Tadej a perseguir, infelizmente três minutos na subida não chegam. Comecei a sonhar com o pódio. Acho que estava ao meu alcance. Simplesmente faltou-me qualquer coisa no topo. Para mim, era pódio ou quarto lugar. Seria bom subir lá e ficar na foto. Mas acho que deixei a mensagem.
Pode dizer-se que a tua prestação aí vai motivar muitos outros a tentar o mesmo.
Sim, não podemos alinhar e, à partida, abdicar da vitória e correr pelo segundo lugar só porque há um ciclista melhor do que nós. Temos de tentar tudo. Seja ali ou em qualquer corrida. E, como disseste, pelo espectáculo, devemos isso a nós e ao ciclismo: tentar ganhar. Não vamos sentar-nos e correr pelo segundo lugar.
Quinn, disseste que subiste um patamar este ano e isso viu-se, mas houve um momento em particular em que percebeste essa evolução? Há explicação? Ou foi a consistência e continuidade que talvez te faltaram, por vários motivos, noutros anos?
Acho que o principal foi a consistência e não ter de parar longos períodos por lesão ou doença. Construir a partir daí. Juntamente com a equipa de performance e o meu treinador, encontrámos um equilíbrio que funciona para mim, com o tempo de preparação em casa, que é algo de que preciso. E depois desenhar um calendário que se ajusta às minhas características.
Se consigo fazer uma época completa sem me magoar e sem ficar um mês ou duas semanas sem bicicleta, faz mesmo diferença. Quando começas a render, isso alimenta-se a si próprio. Para mim, o ponto de viragem: a vitória na Suiça deu muita confiança, mas, na verdade, foram as três semanas do Tour em que consegui estar consistentemente entre os melhores na maior corrida do mundo. Não venci etapa, claro, mas ao longo das três semanas fiz tudo o que podia. Ser capaz de o fazer durante três semanas, e não apenas num dia, foi determinante.
Falaste da importância de ir para casa. Qual dessas duas vertentes pesa mais na preparação? O estado de espírito por estar em casa, tendo em conta que és profissional num contexto de dedicação total.
Quando vou para os EUA treino na perfeição. Vivo a 2000 metros de altitude. Sigo a dieta à risca. Tenho percursos ideais. O meu pai faz-me motorpacing. Tenho gente para treinar comigo. Tudo é impecável. E com essa frescura mental de estar num lugar que adoro, com pessoas que gosto, consigo chegar aqui a voar, e vê-se o que acontece quando apareço feliz.