Do pelotão ao carro de apoio: Krieger inicia nova fase na Tudor

Ciclismo
quarta-feira, 29 outubro 2025 a 2:00
alexanderkrieger
Aos 34 anos, Alexander Krieger pendura oficialmente a bicicleta, encerrando uma carreira marcada pela resiliência, pela dedicação e por uma ascensão fora do comum no ciclismo profissional. O alemão, que passou dez anos no escalão continental antes de chegar ao WorldTour com a Alpecin-Deceuninck, termina o seu percurso na Tudor Pro Cycling, onde já prepara o seu novo papel como diretor desportivo.
“Não são os números nas listas de resultados ou os dados de treino que vou recordar daqui a alguns anos”, afirmou Krieger no site da equipa suíça. “O que fica para mim são os momentos, as amizades e as experiências partilhadas, a felicidade que retiro deste tempo baseia-se nas emoções.”

Uma ascensão paciente e merecida

Krieger seguiu um caminho que poucos ciclistas conseguem percorrer até ao topo. Durante dez épocas no pelotão continental, construiu uma reputação de trabalhador incansável, taticamente inteligente e respeitado pelos colegas.
Em 2019, aos 28 anos, recebeu finalmente a oportunidade de subir de nível, assinando com a Alpecin-Deceuninck, numa altura em que a equipa se afirmava como uma das forças emergentes do ciclismo internacional.
A estreia no WorldTour foi imediata e sólida: sete pódios na época de 2020, participações em sete Grandes Voltas e um papel essencial nos comboios de sprint que ajudaram nomes como Jasper Philipsen a vencer.
Embora nunca tenha vencido uma corrida profissional, Krieger foi durante anos o prototipo do gregário de confiança, o homem que sacrificava ambições pessoais em prol do sucesso coletivo.

O acidente que mudou tudo

O final da sua carreira, no entanto, foi condicionado por um grave acidente na Volta a Itália de 2024, onde sofreu fraturas na pélvis e em várias costelas.
A recuperação foi longa e difícil, e o alemão reconhece que o trauma físico veio acompanhado de um obstáculo psicológico difícil de ultrapassar.
“É o medo de me despistar e de me magoar gravemente. Não é o medo de cair, continuo a ter vontade de correr riscos, é o receio de me lesionar de forma permanente. Esse medo é paralisante.”
Apesar do profissionalismo e da tentativa de regressar ao mais alto nível, Krieger percebeu que o corpo e a mente já não lhe permitiam competir com a mesma confiança.

Da bicicleta para o carro de equipa

Durante o período de recuperação, Krieger teve o primeiro contacto com o seu futuro papel: ajudar como diretor desportivo na equipa de desenvolvimento da Tudor. A experiência revelou-se transformadora.
“O tempo que passei com os jovens ciclistas da Devo Team motivou-me a seguir este caminho”, contou. “Percebi a curiosidade e o profissionalismo com que já trabalham. É aqui que se lançam as bases para o sucesso.”
A partir de 2026, o alemão integrará oficialmente a estrutura técnica da Tudor Pro Cycling, onde será responsável não só pela orientação em corrida, mas também pelo recrutamento e desenvolvimento de talentos.
“Como diretor desportivo, posso partilhar a minha experiência e contribuir para o crescimento dos jovens. Fisicamente, já estão muito evoluídos tática e tecnicamente, vejo muito espaço para progredirem. É aí que eu entro.”

Um adeus com gratidão, e sem arrependimentos

Apesar do final antecipado, Krieger despede-se com serenidade e orgulho.
“Vou sentir falta da emoção, do êxtase das corridas, dos adeptos, do som do pelotão e daquela sensação de sentar-me no autocarro depois da meta, acabado de tomar banho e com um prato de massa nas mãos”, disse.
Mais do que um palmarés, Krieger deixa como legado a perseverança de quem acreditou até ao fim, um exemplo raro de como o sucesso no ciclismo nem sempre se mede por vitórias, mas pela consistência, carácter e contributo para a equipa.
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