“Ele não sobe, não sprinta, não se defende no contrarrelógio” Roger De Vlaeminck sobre Mathieu van der Poel

Ciclismo
sábado, 15 novembro 2025 a 11:00
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Roger De Vlaeminck, uma das figuras mais marcantes das clássicas e um dos nomes mais vocais da história do ciclismo, voltou a fazer declarações sem filtros. Numa das suas entrevistas recentes, o belga voltou a afastar a ideia de que Tadej Pogacar possa ser visto como um “novo Merckx”. Mas, enquanto essa frase se tornou viral, uma avaliação ainda mais direta, dirigida a Mathieu van der Poel, passou quase despercebida.
De Vlaeminck contrariou de forma consciente a corrente de opinião que coloca Pogacar ao nível de Eddy Merckx e, enquanto a discussão se concentrou nessa comparação, uma segunda citação – muito mais incisiva – ficou para segundo plano: “Ele não sobe, não sprinta, não se aguenta no contrarrelógio… sobra pouco”, disse ao Het Laatste Nieuws. Uma frase curta, mas reveladora, que mostra o quão exigente continua a ser a sua visão sobre a geração moderna.

Um herói das clássicas com padrões intransigentes

Roger De Vlaeminck encarna uma era em que a versatilidade era a regra e não a exceção. Venceu quatro vezes a Paris–Roubaix, conquistou os cinco Monumentos e construiu a carreira com base na capacidade de competir ao mais alto nível em qualquer terreno. Para um ciclista com este ADN competitivo, a medida dos corredores de hoje continua a ser feita segundo um ideal quase absoluto: sprint, contrarrelógio, resistência na montanha e domínio transversal do calendário.

A análise dura de De Vlaeminck a van der Poel

Na mesma entrevista, o belga traçou uma fronteira rígida entre aquilo que considera um “corredor completo” e aquilo que, aos seus olhos, Van der Poel representa. A sua avaliação não deixou margem para suavizações.
Não é trepador – não é competitivo em subidas longas. Não é sprinter – não está ao nível mundial nos sprints em pelotão compacto. Não é contrarrelogista – não é suficientemente forte para desempenhos a solo.
Para De Vlaeminck, isto esboça um retrato directo: Van der Poel é brilhante tecnicamente, explosivo, decisivo nas clássicas e no ciclocrosse, mas não reúne a universalidade que, no seu referencial, distingue os verdadeiros todo-o-terreno.
Van der Poel pode conquistar o oitavo título mundial de ciclocrosse este inverno. Se o fizer, acaba com o recorde do irmão de Roger, Erick De Vlaeminck. @Imago
Van der Poel pode conquistar o oitavo título mundial de ciclocrosse este inverno. Se o fizer, acaba com o recorde do irmão de Roger, Erick De Vlaeminck. @Imago

Duas gerações, duas definições de grandeza

A diferença entre a primeira e a segunda frase da entrevista é reveladora. De Vlaeminck não aproxima Pogacar de Merckx por considerá-los igualmente completos, pelo contrário, sublinha explicitamente que o esloveno não atinge o padrão do “Canibal”. Já Van der Poel, apesar do talento excecional, vê-o como um especialista moderno: dominador nas corridas explosivas, no ciclocrosse e até no gravel ou no BTT, mas limitado nas disciplinas que, na sua óptica, definem as lendas.
O que hoje é encarado como especialização surge-lhe como incompletude. O ciclismo de Van der Poel – espetacular, ofensivo, eletrizante – choca com o critério clássico de De Vlaeminck, que valoriza acima de tudo o domínio absoluto em qualquer tipo de corrida.
E é isso que torna esta entrevista particularmente reveladora. A frase sobre Pogacar gerou debate, mas a crítica mais dura foi claramente dirigida a Van der Poel. Para De Vlaeminck, só os ciclistas que brilham em todas as disciplinas merecem o estatuto máximo e apenas Pogacar e Merckx se aproximam desse ideal. Van der Poel, apesar do seu impacto histórico e do talento inegável, não preenche esse requisito.
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