"Talvez eu esteja demasiado velho" - Geraint Thomas despede-se da Volta a França 18 anos depois

Ciclismo
segunda-feira, 28 julho 2025 a 13:00
GeraintThomas
Geraint Thomas colocou um ponto final numa era ao cruzar pela última vez a meta da Volta a França. Aos 38 anos, o galês encerrou no domingo a sua 14.ª participação na Grand Boucle, numa edição marcada por dificuldades físicas, quedas na equipa e um ambiente competitivo cada vez mais desenhado para as novas gerações. Ainda assim, Thomas saiu como sempre correu: com classe, honestidade e o respeito unânime do pelotão.
"Acho que a última etapa resumiu o meu Tour, para ser sincero. Estava despedaçado, houve muita coisa a acontecer hoje com a chuva e tudo, e isso refletiu o meu estado de espírito", confessou à TNT Sports. As suas palavras refletem bem a dureza de um Tour que começou com ambição, mas acabou marcado pela realidade do desgaste e da transição.
Sem pernas para discutir a geral, e com Carlos Rodríguez forçado a abandonar após múltiplas quedas, Thomas procurou protagonismo em etapas montanhosas, tentando despedir-se com uma vitória que acabaria por não acontecer. Ainda assim, a INEOS Grenadiers foi salva pelas exibições monumentais de Thymen Arensman, que venceu etapas nos Pirenéus e nos Alpes, um feito único nesta edição e que trouxe brilho a uma campanha coletiva que parecia condenada.
Para Thomas, o momento da despedida foi vivido com serenidade e consciência de que o tempo certo tinha chegado. "Estou muito feliz por ter terminado. Também estou feliz com a minha decisão de me retirar, porque a corrida e o aspeto físico são uma coisa, mas sinto que tudo o resto mudou no desporto", explicou. “O pelotão é mais caótico. É como um jogo do sério, e ninguém se quer mexer. Talvez hoje em dia seja mais um desporto de jovens e eu esteja demasiado velho. É uma boa altura para parar.”
Com estreia no Tour em 2007, Thomas percorreu quase duas décadas de ciclismo de alto nível, testemunhando a chegada e saída de gerações inteiras. Foi gregário de luxo, campeão olímpico, ciclista de clássicas e, em 2018, atingiu o topo do mundo do ciclismo ao vencer a Volta a França. Um feito que nenhum outro britânico, com exceção de Bradley Wiggins e Chris Froome, conseguiu alcançar. A sua carreira consolidou-se como uma das mais prestigiadas do ciclismo britânico no século XXI.
No domingo, Paris ofereceu-lhe uma despedida simbólica e emocional. Sob chuva, num dos circuitos mais técnicos e traiçoeiros dos últimos anos, Thomas teve a última etapa dura da sua carreira. Mas também a mais especial. "Foi horrível hoje, a pior última etapa que já fiz, mas ao mesmo tempo aquela última volta foi a melhor última volta que já fiz. Por isso, há que ter em conta os aspetos positivos e negativos, como tudo na vida."
Ao subir Montmartre, ouviu o aplauso de milhares de adeptos que sabiam estar a assistir à despedida de um campeão discreto, mas carismático. “A última volta foi fantástica, depois de tudo se ter acalmado. O percurso era horrível, mas o público era inacreditável”, recorda. O momento mais simbólico aconteceu quando Toms Skujins, da Lidl-Trek, lhe deu passagem no topo da última subida: “O público estava louco, acho que ele estava a gozar com eles, mas foi especial, uma boa maneira de terminar. Apesar de o circuito ser horrível, foi uma forma muito agradável de terminar.”
Assim se despediu Geraint Thomas da sua corrida de eleição, onde construiu o seu legado com suor, sacrifício e inteligência tática. O Tour já não será o mesmo sem ele, mas as estradas onde brilhou jamais esquecerão o seu nome.
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