Tadej Pogacar conquistou este domingo a sua quarta
Volta a França com um domínio tão absoluto que, para
Eddy Merckx, a pergunta já não é se o esloveno pode bater o recorde de cinco vitórias na Grand Boucle, mas quando o fará. O belga, que partilha o recorde com Anquetil, Hinault e Indurain, não poupou elogios ao esloveno, mas também lançou duras críticas ao nível competitivo do pelotão atual, afirmando que ninguém conseguiu, de facto, desafiar Pogacar ao longo das três semanas.
"A verdadeira emoção durante esta Volta a França não existiu", disse Merckx ao De Telegraaf. "Jonas Vingegaard não era um adversário. Só andou a aguentar-se durante três semanas."
A análise do “Canibal” é implacável. Para ele, nem os ataques da Team Visma | Lease a Bike, nem os esforços isolados de Vingegaard nos Alpes foram suficientes para criar incerteza. O domínio de Pogacar foi tão avassalador que Merckx considera já ultrapassada a fase em que o esloveno tinha "dias maus", como aconteceu em 2022 ou 2023. Desde 2024, segundo o belga, Pogacar subiu para um patamar em que as falhas deixaram de fazer parte do seu perfil competitivo. “Se tivesse havido mais competição, teria sido mais difícil para ele alcançar tantas vitórias. Mas se me perguntarem se ele vai conseguir mais de cinco vitórias na Volta à França, só posso responder: com certeza!”
Com apenas 26 anos, Pogacar já igualou Chris Froome e está a uma vitória do quarteto lendário que lidera o palmarés da prova. Para Merckx, a possibilidade de o esloveno atingir ou até ultrapassar as cinco conquistas é real e, sobretudo, natural tal é o seu domínio.
Mas Merckx vai mais longe e aponta a escassez de verdadeiros rivais como um dos fatores que podem acelerar esse percurso histórico. “Não, de certeza que não”, respondeu, quando questionado sobre a possibilidade de Remco Evenepoel bater Pogacar no Tour. “O Remco é mais um corredor de contrarrelógios. Não é suficientemente forte nas subidas para competir com Pogacar pela vitória na Volta a França.”
O mesmo pensamento aplica-se a Juan Ayuso, apontado por muitos como o futuro da UAE Team Emirates - XRG: “Ele não é suficientemente forte em três semanas”, afirmou o belga.
Na opinião de Merckx, há apenas um ciclista capaz de rivalizar com Pogacar, ainda que não na Volta a França. “Ele fez uma Volta à França incrível, que atleta! A sua dedicação é inigualável e ele faz muitas vezes coisas bonitas e inesperadas”, afirmou, referindo-se a
Mathieu van der Poel. “É uma pena que Mathieu já não seja um ciclista para ganhar uma Volta à França, porque ele é o único que poderia realmente desafiar o Pogacar.”
Van der Poel, cuja presença no Tour tem sido esporádica e centrada nas primeiras etapas e nas clássicas, recebeu elogios raros de Merckx, que o vê como o único rival com capacidade de surpreender Pogacar. “Nas clássicas, ele pode ser batido. E o Mathieu é o único que o consegue fazer hoje em dia.”
As palavras de Eddy Merckx não só reforçam a grandeza de Pogacar no presente, como traçam o cenário para uma possível hegemonia histórica. Sem rivais à altura nas Grandes Voltas e com apenas Van der Poel como opositor digno nas clássicas, o esloveno tem caminho aberto para escrever um novo capítulo no livro dos eternos do ciclismo.