A queda sofrida na 2ª etapa da Volta a Espanha de 2025 alterou radicalmente o rumo da temporada de
Guillaume Martin. O francês da Groupama–FDJ de 32 anos,
revelou ao DirectVelo o impacto físico e psicológico desse momento, que o deixou com duas vértebras fraturadas e cicatrizes que, nas suas palavras, “poderão durar mais do que esta época”.
“Fiquei marcado fisicamente, mas também psicologicamente”, confessou o trepador. “Nas descidas técnicas e húmidas da Lombardia, não me senti confortável nenhum momento.”
O regresso às clássicas italianas de outono, incluindo Il Lombardia, não correu como planeado. Martin abandonou a corrida em Bérgamo, pela quinta vez em cinco participações, e admitiu que continua sem conseguir sentir-se em sintonia com o terreno.
“Nunca tive boas sensações aqui. Sofro de asma e acho que tem algo a ver com o ar, há uma espécie de véu nebuloso causado pela poluição.”
Uma época partida ao meio
O ano de 2025 começou promissor para Martin. Após trocar a Cofidis pela Groupama–FDJ, o francês viu na nova estrutura uma oportunidade de recomeço e respondeu com vitórias consecutivas na Classic Grand Besançon Doubs e no Tour du Jura. Mostrou consistência no Critérium du Dauphiné (10.º) e no Volta ao País Basco (12.º), perspectivando uma época em ascensão.
Mas a Volta a França revelou-se ingrata: um 16.º lugar final marcado por problemas fisiológicos. “Fui prejudicado por valores biológicos baixos, especialmente os níveis de ferro”, explicou.
A Vuelta seria o seu último grande objetivo, até à fatídica queda numa descida, que o obrigou a abandonar com fraturas vertebrais. O episódio transformou o final da sua época num exercício de resistência mental.
“Nunca senti que pude expressar plenamente todo o meu potencial. É frustrante. No papel, é talvez uma das minhas épocas mais fracas.”
Martin em ação na La Vuelta antes da queda na segunda etapa
Depois do acidente, Martin optou por regressar às corridas no outono, mais como forma de recuperação emocional do que fisicamente. Esteve presente na Coppa Agostoni e em Veneto, consciente de que não estava no seu melhor.
“Deu-me um objetivo, algo que me motivasse a voltar à bicicleta. Não estou num grande nível de forma, mas voltei ao calendário normal e posso descansar ao mesmo tempo que os outros. Assim no inverno não terei de recomeçar o treino demasiado cedo.”
As últimas semanas do ano serviram-lhe de catarse, um modo de enfrentar o trauma de forma ativa. “Estas corridas impedem-me de pensar no acidente durante todo o inverno.”
Apoio da nova equipa e planos para 2026
Apesar das dificuldades, Martin elogiou a forma como foi acolhido pela Groupama–FDJ. “Senti-me verdadeiramente apoiado depois da queda. É fácil sentirmo-nos marginalizados em momentos assim. Aqui, senti-me integrado.”
O francês olha agora para 2026 com esperanças moderadas e vontade de sair da rotina habitual. “Estou a pensar seriamente em começar a época no Tour Down Under. Sempre quis conhecer a Austrália. Ainda não está confirmado, mas há uma boa hipótese de eu ir lá.”
Contudo, não planeia alterar radicalmente o seu calendário. “Há corridas a que estou muito ligado, como a Volta a França e a Liège–Bastogne–Liège. O que realmente quero é voltar ao nível que tinha na primavera deste ano.”
Um inverno para reflectir
Guillaume Martin entra na pausa invernal com mais dúvidas do que certezas - sobre o corpo, a confiança e o futuro. Mas permanece firme no seu princípio: não permitir que uma queda o defina.
Depois de uma carreira marcada por consistência, lucidez e filosofia dentro e fora da bicicleta, o francês enfrenta um dos maiores desafios da sua carreira: reencontrar-se consigo mesmo. “Sou um lutador. Mesmo que não possa correr a 100%, o importante é continuar a pedalar. Não quero que a Vuelta seja o ponto final da minha história.”