O ataque de
Roger De Vlaeminck a
Tadej Pogacar continua a fazer ondas no pelotão e agora uma das vozes mais respeitadas de Itália entrou em campo.
Em declarações à Bici.Pro, o veterano jornalista Claudio Gregori apresentou uma réplica contundente à posição do belga, contestando diretamente o tom e o conteúdo das suas afirmações.
A polémica começou quando o ex-corredor, de 78 anos, numa entrevista inflamável ao Het Laatste Nieuws,
rejeitou qualquer comparação entre Pogacar e Eddy Merckx. “Disparate! O Pogacar nem sequer serve para apertar os atacadores do Merckx”, atirou. E reforçou com outra tirada abrangente: “Se hoje tivesse 22 anos e estivesse no pelotão com ele, ele não me descarregava”.
O antigo especialista do Paris-Roubaix insistiu ainda que quem questiona o estatuto de Merckx “não sabe do que está a falar”.
Gregori reage: “Inaceitável”
Gregori, que cobriu doze Jogos Olímpicos e décadas de Grandes Voltas, não escondeu a reação. Em conversa com a Bici.Pro, afirmou: “As declarações de De Vlaeminck são inaceitáveis. Veja-se os corredores contra quem ele competiu, sobretudo o Merckx, que o bateu muitas vezes”.
Argumentou que as palavras de De Vlaeminck ignoram o quadro mais amplo: “Ele também é um tipo de corredor muito diferente do Pogacar, mas no fim não está a analisar as vitórias; os números também têm de ser ponderados. O ciclismo moderno é muito diferente do deles, tudo é calculado ao milímetro”.
Em vez de tomar partido no calor do debate, Gregori sublinhou a importância do contexto. Assinalou a diferença entre épocas e explicou como as características de rendimento variam entre corredores que nunca competiram nas mesmas condições.
Comparar épocas sem nostalgia
Gregori defendeu que as comparações entre Pogacar e Merckx exigem nuance, não provocação. “Pogacar e Merckx são dois corredores diferentes que competiram em épocas diferentes”, afirmou.
Recorreu a uma comparação física simples: “O Pogacar é claramente mais forte do que o Merckx a subir… já o Merckx tinha, sem dúvida, um motor mais potente”.
O jornalista italiano destacou a versatilidade de Pogacar, citando exemplos do seu estilo de correr em vez de recorrer a slogans. Apontou os ataques de longo alcance e a consistência excecional nos Monumentos como prova de que o esloveno está a construir o seu próprio lugar na história do ciclismo.
“Um campeão da mais alta categoria”
Gregori abordou também os números, não para diminuir Merckx, mas para sublinhar o que Pogacar alcançou na era moderna. “O Pogacar é um campeão da mais alta categoria”, disse. “Venceu 5 Il Lombardia em 5 participações, um dado incrível”.
Observou que nem o lendário palmarés de Merckx impediu o esloveno de fazer o impensável: “O Pogacar foi segundo logo na sua primeira Roubaix, algo inimaginável até há poucos anos”.
Gregori acrescentou que o estilo de Pogacar devolve algo que o ciclismo parecia ter perdido: “No ciclismo moderno, parecia impossível emocionar com ataques solitários de longo alcance, e no entanto ele recuperou esta forma de correr… É isso que o torna tão querido”.
Evenepoel, Vingegaard e os rivais que definem a era Pogacar
Um argumento recorrente no debate lançado por De Vlaeminck é o alegado domínio de Pogacar sem rivais. Gregori rejeitou essa ideia. “Não é verdade que o Pogacar não tem rivais ao seu nível”, notou, lembrando os duelos recentes com Vingegaard e identificando Evenepoel como grande ameaça a longo prazo: “É dois anos mais novo… mostrou que pode lutar em Grandes Voltas”.
Gregori concluiu situando o lugar de Pogacar na história numa perspetiva temporal mais longa, e não no calor de uma polémica. “Por agora, mantém-se a definição: ‘Merckx, o mais forte; Coppi, o maior.’ Mas dentro de três anos, acredito que entre esses dois poderemos, sem dúvida, incluir o campeão esloveno”.