Julian Alaphilippe é, sem margem para dúvida, uma das figuras mais marcantes da última década da
Volta a França. Em seis participações, o francês conquistou seis etapas, vestiu a Camisola Amarela por 18 dias, terminou uma edição no top 5 da geral e chegou mesmo a vencer a Classificação da Montanha. Mas para além das estatísticas, foi a sua atitude combativa, emoção à flor da pele e ligação com o público que o tornaram num símbolo da
Grand Boucle.
Agora, com as cores da Tudor Pro Cycling, equipa convidada este ano para a sua estreia na Volta a França, Alaphilippe regressa a uma corrida que conhece como poucos. E não esconde a importância que este regresso tem na sua carreira. “Sei que tenho uma história com o Tour, e não apenas pelas vitórias. Enfrentei muitos desafios diferentes”, partilhou no programa
Bistrot Vélo. “Resiliência, dar tudo ano após ano, lutar pelas Camisolas, pelas etapas com Cavendish, Viviani, Kittel... vivi momentos fortes, ganhei recordações valiosas. E, claro, o apoio do público francês foi sempre inesquecível. É por isso que voltar ao Tour significa tanto para mim.”
Alaphilippe recorda com emoção o início da sua ligação à prova-rainha do ciclismo mundial. “Lembro-me de estar no meu primeiro Tour e sonhar com a possibilidade de um dia vencer uma etapa. O meu objetivo era terminar, chegar a Paris e dizer: 'fiz a Volta a França e ajudei a equipa'.”
Julian Alaphilippe liderou a Volta a França de 2019 quase até ao fim
Mas a afirmação não demorou muito. Apenas dois anos depois da estreia, inscreveu o seu nome na história da corrida, tornando-se um dos protagonistas da inesquecível edição de 2019. “Nunca imaginei alcançar o que consegui. É um motivo de grande orgulho. Fazer isto no Tour, a maior corrida do mundo, com o apoio do público, e sendo francês, é algo multiplicado por dez. É simplesmente incrível.”
Entre as muitas memórias, há uma que se destaca com brilho especial: a vitória no contrarrelógio de Pau em 2019, quando vestia a Camisola Amarela. “O percurso assentava-me que nem uma luva. Sentia-me com as melhores pernas da minha vida”, relembra. “E a Camisola Amarela traz uma pressão tremenda. O mundo espera que a percamos, e nós queremos provar o contrário. Mas nunca pensei ganhar um contrarrelógio com a Amarela vestida. Foi especial. Um dia que nunca esquecerei.”
Apesar de nunca ter sido um ciclista de lutar por Classificações Gerais, Alaphilippe construiu a sua reputação através de ousadia, ataques oportunos e um sentido de espetáculo inato. Essa liberdade ofensiva, no entanto, só é possível quando se está em boa forma. “Divertimo-nos quando temos boas pernas”, diz entre risos. “Mas no final, cabe-me a mim encontrar o meu lugar, divertir-me e tentar cumprir os objetivos traçados para as etapas em que quero brilhar.”
Em 2025, mais maduro mas ainda com o mesmo ADN combativo, Julian Alaphilippe regressa à Volta a França com uma nova camisola, mas com a mesma alma. A alma de um corredor que vive o ciclismo com o coração nas pernas e o público no pensamento.