A primeira etapa da
Volta a França de 2025 ofereceu desde logo um esboço do que está em jogo nesta edição. Para
Lance Armstrong, foi “um arranque perfeito” para os dois grandes favoritos, Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard, e um verdadeiro desastre para outros candidatos ao pódio. No meio do caos provocado pelos ventos laterais e quedas, brilhou a Alpecin-Deceuninck com um sprint perfeito que culminou na vitória esmagadora de Jasper Philipsen, primeiro Camisola Amarela desta edição.
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The Move, Armstrong, acompanhado por
George Hincapie e Sir
Bradley Wiggins, analisou os danos e as primeiras movimentações decisivas da prova, antevendo uma primeira semana impiedosa. “Se somos o Pogacar ou o Vingegaard sentados no autocarro neste momento, pensamos:
‘Ok, foi uma vitória’”, disse Armstrong. “Eles consideram isto um início perfeito, e com razão.”
Para Remco Evenepoel e Primoz Roglic, o panorama é bem diferente. Ambos ficaram cortados pelo vento e cederam 49 segundos na geral. A equipa do The Move tinha, aliás, previsto esse risco na véspera. “Foi exatamente o que dissemos ontem”, comentou Armstrong. “Não se pode deixar fugir um grupo de 40 ciclistas.”
Hincapie partilhou da frustração perante a forma como se partiu o pelotão e a aparente falta de preparação de algumas equipas. “Consigo imaginar o Johan Bruyneel aos berros no autocarro: ‘Como é que não se vêem um grupo de 40 a fugir? Vocês sabiam que vinha aí vento! Não apareceu do nada! Via-se que iam haver cortes.’”
Bradley Wiggins sublinhou que, embora previsível, o impacto da etapa não deve ser subestimado. “Correu como esperávamos não foi? Mas se isto for um prenúncio do que está por vir, teremos uma grande corrida.”
A Visma e a Emirates mostraram autoridade, colocando quatro ou cinco elementos cada na frente da corrida. Mesmo com o nervosismo próprio do primeiro dia, Pogacar e Vingegaard posicionaram-se de forma exemplar. “Foi um grande dia para eles”, afirmou Hincapie. “Quando numa primeira etapa do Tour só chegam 35 ciclistas na frente da corrida, pensas: ‘Graças a Deus, agora já não tenho de me preocupar com quedas’.”
Wiggins ficou impressionado com a prestação da Visma: "Tinham 4 ou 5 ciclistas na frente, estavam muito bem representados".
Mas a grande surpresa foi mesmo a Uno-X Mobility, que colocou também quatro elementos no grupo da frente e garantiu um lugar no pódio. “É uma equipa em crescimento e conseguiu logo um pódio, é impressionante”, destacou Armstrong. “Que forma de começar a Volta à França.”
Na linha de meta, o sprint foi controlado com precisão pela Alpecin. Van der Poel assumiu primeiro a dianteira, seguido por Groves, com Philipsen a finalizar com autoridade. “Incrível. A todos os níveis. É a sua 10ª vitória em apenas 4 anos", disse Armstrong.
Wiggins destacou ainda a qualidade do comboio da Alpecin: “É assim que se ganha um sprint. Ter um motor como Van der Poel e um Groves em forma ajuda imenso.”
A análise virou-se depois para a Soudal - Quick-Step, alvo de críticas de Armstrong pela aparente falta de comando no terreno. “A equipa parece sem rumo. Se o Bruyneel fosse diretor, já tinham riscado os planos todos e redesenhado tudo desde o início.”
Quanto a Roglic, Armstrong mostrou-se surpreendido com a falha: “Ele tem uma boa equipa e é excelente nos ventos laterais. Não percebo como não conseguiram colocá-lo na frente.”
Hincapie, contudo, defendeu que ainda é cedo para fazer funerais: “O Remco pode recuperar no contrarrelógio e ainda vai a tempo de vestir a Camisola Amarela, pode acompanhar os melhores nas zonas duras. E Roglic já esteve atrás noutras Grandes Voltas e conseguiu dar a volta. Claro que Pogacar e Vingegaard à frente não é o ideal, mas não se pode descartá-lo.”
Wiggins sugeriu que Roglic poderá ter hesitado por memórias negativas recentes: “Será que lhe passou pela cabeça tudo o que lhe aconteceu nas últimas Voltas à França? Tem sofrido quedas ano após ano. Talvez isso o tenha condicionado.”
A vertente psicológica também foi abordada, especialmente no que toca ao peso mental de começar a Grande Volta em desvantagem. “Estás ali no autocarro e pensas: ‘Oh não, será que já perdi isto?’”, confessou Armstrong.
A conclusão foi clara: a Volta à França não se ganha na primeira semana, mas pode perfeitamente começar a perder-se. E, para alguns, podem perfeitamente já ter começado a perder terreno que no fim se vai revelar importante.