Louis Meintjes põe fim à carreira e deixa mensagem de humildade: “Dar tudo é o que conta”

Após mais de uma década entre os melhores trepadores do pelotão internacional, Louis Meintjes decidiu colocar um ponto final na sua carreira profissional. O ciclista sul-africano de 32 anos encerra um percurso marcado pela regularidade, serenidade e resiliência, acumulando sete vitórias profissionais, entre as quais se destacam a etapa conquistada na Volta a Espanha e a icónica vitória na Volta ao País Basco em 2024, uma jornada lembrada pelo acidente que afastou Jonas Vingegaard, Remco Evenepoel e Roglic.

“Acho que já andava a pensar nisso há alguns anos e agora é simplesmente um bom momento”, explicou Meintjes, confirmando que a decisão de se retirar já vinha a ser ponderada há algum tempo.

Questionado sobre se a fusão entre a Intermarché e a Lotto influenciou a sua escolha, o sul-africano foi perentório.

“Não diria que sim. Podia sempre procurar outra equipa se quisesse, sei que muitas me aceitariam. Para mim, esse não foi o fator mais importante para me retirar.”

Meintjes reconhece que o mercado atual é difícil, com várias equipas a perderem patrocínios e menos lugares disponíveis no WorldTour, mas insiste que a decisão foi pessoal e natural: o momento certo para virar a página.

Em 13 anos de carreira profissional, Meintjes destacou-se como um ciclista regular e fiável, mais preocupado com o esforço do que com as estatísticas.

“Para mim, o resultado nunca foi o mais importante. Se não ganhasse mas fizesse uma boa corrida, se desse tudo por tudo, tudo bem. O importante era dar 100 por cento. Se sentisse que tinha feito tudo o que podia, isso era suficiente.”

O sul-africano venceu etapas e provas exigentes, e conquistou o respeito do pelotão pela sua atitude calma e profissional.

“A vitória na Volta a Espanha foi muito bonita porque é diferente quando se ganha. Quando se termina em primeiro lugar, é algo realmente especial.”

Mas Meintjes guarda também um carinho especial pelas três presenças no Top 10 da Volta a França, feitos que só mais tarde aprendeu a valorizar:

“No momento não o sentimos tanto. Mas agora aprecio-o mais, especialmente porque o consegui três vezes naquela que é a maior corrida da época.”

Durante anos, Meintjes foi o rosto do ciclismo sul-africano na Europa. Representou o seu país com distinção e serviu de referência para jovens ciclistas que sonham seguir o mesmo caminho.

“Penso que o nosso ciclismo passa por altos e baixos. Neste momento, talvez não esteja no seu auge porque é difícil emergir sem grandes equipas na África do Sul. Quando tínhamos a Qhubeka, era um canal importante. Dava-nos visibilidade.”

Mesmo sem uma estrutura nacional forte, acredita que a popularidade do ciclismo na África do Sul aumentou consideravelmente:

“No início, muitas pessoas não compreendiam que eu era um ciclista profissional. Agora, se eu disser a alguém na África do Sul que era ciclista, percebem que é como o futebol, uma carreira completa e financeiramente estável.”

Agora, com o capítulo do ciclismo profissional encerrado, Meintjes admite que ainda não tem planos definidos para o futuro.

“Essa é uma boa pergunta, porque não sei. Ainda não tenho nenhum plano. Primeiro, quero descansar e pensar no que quero fazer. Preciso de descontrair depois de mais de uma década de rotina. Quero descobrir o que me entusiasma agora.”

A reflexão estende-se também à mudança de paradigma no ciclismo moderno, onde os jovens assumem cada vez mais cedo o protagonismo.

“Os exemplos como o meu vão tornar-se exceções, também porque os ciclistas começam mais cedo. Depois de dez anos ao mais alto nível, começa-se a ver a vida de forma diferente.”

O sul-africano acredita que esta nova tendência se explica pela busca incessante de talento pelas equipas:

“As equipas preferem arriscar num jovem que possa ser especial, em vez de manter um ciclista mais velho que é consistente, mas previsível.”

Louis Meintjes sai do pelotão sem arrependimentos e com uma reputação intocável. Discreto, mas eficiente, conquistou o respeito dos colegas e dos adeptos pela forma como abordava cada corrida: com profissionalismo e humildade. A sua carreira, marcada pela persistência e consistência, deixa uma mensagem clara, nem sempre é preciso vencer para ter sucesso.