Marcos Maynar: "Só o treino não faz com que o vencedor da Volta à França ande a velocidades Induráin nos contra-relógios"

Marcos Maynar, o principal investigado na Operação Ilex por um suposto crime contra a saúde pública e administração de substâncias dopantes, concedeu uma entrevista exclusiva ao El Contraanálisis a que tivemos acesso na qual, para além de falar sobre Caja Rural e doping em geral, aborda outros assuntos.

Nesta segunda parte da entrevista, fala do Jumbo-Visma, de Miguel Angel Lopez (que defende a todo o custo) e do que pensa sobre a dopagem enquanto médico desportivo. Comenta Jonas Vingegaard e Sepp Kuss, sem os acusar diretamente de nada, mas deixando em aberto algumas dúvidas sem apresentar provas. Pede esclarecimentos sobre o resultado positivo de Michel Hessmann.

"Acham que o Jumbo-Visma se está a dar tão bem com cetonas? Conhecendo as limitações que elas têm e que, entre outras coisas, não ajudam a uma intensidade de esforço elevada, será que ele vai permitir os esforços flagrantes que fez no contrarrelógio da Volta a França? Em relação ao Kuss, dir-lhe-ia que alguém perdeu a mão na Vuelta a España e que o aceleraram demasiado e acho que ele não teve tempo para treinar. Percebem o que quero dizer? As suspeitas vão estar sempre presentes e eles são dos melhores. Portanto, digamos que o facto de os meus ciclistas estarem a ir bem se deve ao doping. Não, pá, não, há métodos alternativos.

"Curiosamente, um dos ciclistas do Jumbo testou positivo para um diurético. Os diuréticos são agentes mascarantes, o que poderá estar por detrás desse diurético".

"Como se diz na Colômbia, ele ter-me-ia mandado para o inferno se eu o tivesse feito. A primeira condição que ele sempre colocou, desde o início, foi a de não usar substâncias dopantes. Como é que eu vou enviar algo a este homem e enviar-lho com os recordes que são feitos no Giro, no Tour? Sobretudo em Itália. É absurdo.

"Quanto aos outros, não ponho a minha mão no fogo por substâncias que não são detectadas neste momento, mas que não são permitidas. Não ponho a minha mão no fogo por ninguém, apenas por Miguel Angel Lopez. Porque eu sei o que ele estava a tomar. Sei que ele é muito forte. E se ele tivesse tomado o gancho na Volta a França ou nos outros, não me preocuparia com este tipo de disparates... Eles que se preocupem e que digam à UCI para investigar, pois estão a fazer figura de parvos. O treino, por si só, não faz o que o vencedor da Volta a França fez à velocidade de Induráin nos seus contra-relógios, comparando as estruturas de um e de outro. Há também algo mais para além da tecnologia.

"Os seus colegas baptizaram-na como a dopagem do pobre e isso é uma treta, a EPO do pobre. Não tem qualquer efeito na oxigenação dos tecidos. Ajuda as coronárias, é essa a sua principal função. É uma substância que entra no tráfico de droga, não no doping. Não consta das listas antidopagem da AMA, está proibida de ser comercializada. Eu não vendi Actovegin a ninguém. Eu, como médico, dei o medicamento. Aconselhei a utilização desta substância e não cometi doping. Estou absolutamente calmo porque acredito na justiça. Não cometi nenhuma infração de dopagem.

"A dopagem parece-me ser uma injustiça em relação a quem não se dopa. Aquele que se dopa está a fazer batota, é um batoteiro. Ele vê que há cavaleiros que quando ele treina têm o mesmo nível e depois vem a competição e ganha um minuto. Agora, não venham com essa coisa da saúde. A UCI não se preocupa com a saúde do atleta, senão não deixava competir ciclistas com um hematócrito muito baixo, isso não vai parar. Mas a mentalidade do atleta está a mudar. A chave é a educação.

"A dopagem genética já existe. Podemos manipular os genes. Já sabemos quais os genes que induzem a produção de mais ou menos EPO e quais os que produzem mais testosterona. Portanto, com uma simples manipulação genética através da introdução de um vírus. Bem, haverá cavaleiros que ficarão de certeza. Não creio que [Alexande] Vinokourov vá deixar que os seus dois filhos ciclistas façam o que ele fez".

"Nego-o. Não sei. Sei positivamente de substâncias naturais que podem aumentar os níveis naturais de testosterona, hormonas de crescimento... pode-se aumentar o hematócrito com substâncias vendidas na ervanária. O que acontece é que os tempos mudam. Não é a mesma coisa fazer com uma planta que demora um mês a aumentar os níveis de testosterona, quando há formas mais rápidas de o fazer farmacologicamente, mas no final consegue-se atingir os mesmos objectivos. Há alternativas para ajudar o atleta a melhorar o seu desempenho sem prejudicar a sua saúde".

"Não sabemos, talvez lhe estejam a dar fórmulas mestras. Não sabemos, o que posso dizer, pela minha experiência com produtos à base de plantas, é que é importante saber quando dar e como dar."