O que faz do Angliru a subida mais temida do ciclismo?

Ciclismo
sexta-feira, 05 setembro 2025 a 12:00
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A Volta a Espanha sempre se distinguiu pelas suas subidas impiedosas, mas nenhuma carrega tanto peso simbólico e ameaçador como o Alto de l’Angliru. Erguida nas estradas míticas das Astúrias, esta montanha ganhou fama como a subida mais temida do ciclismo moderno. Introduzida pela primeira vez em 1999, o Angliru foi pensado para dar à corrida espanhola um ícone capaz de rivalizar com o Alpe d’Huez, o Mont Ventoux ou o Mortirolo. Pavimentada no final dos anos 90 com esse propósito, a antiga estrada de terra batida depressa ganhou notoriedade pelas suas rampas desumanas.
Hoje, na 13ª etapa da Vuelta 2025, o pelotão enfrenta novamente o colosso asturiano. O percurso parte de Cabezón de la Sal e estende-se por 203 quilómetros, maioritariamente planos até às montanhas finais. A sequência Cordal - Angliru promete ser decisiva: é um daqueles dias que podem redefinir a classificação geral e até ditar o pódio final, quando ainda resta uma semana de corrida.
O que torna o Angliru lendário não é apenas a sua extensão, 12,4 quilómetros a uma média de 10% já seriam suficientes para separar os melhores, mas sim as variações abruptas e as rampas que destroem qualquer ritmo. Os primeiros cinco quilómetros, a rondar os 8%, já colocam os ciclistas em esforço, mas é apenas o prelúdio. A partir daí, a inclinação dispara, quase sempre em dois dígitos, culminando no icónico troço da Cueña les Cabres, onde a estrada atinge 23-24%. A sensação é de escalada ao limite, com ciclistas muitas vezes a serpentear a estrada para não parar. Apenas o último quilómetro concede um tímido alívio.
A lista de vencedores aqui é curta, mas repleta de significado. José María "Chava" Jiménez escreveu a primeira página em 1999, superando Pavel Tonkov em pleno nevoeiro. Alberto Contador deixou a sua marca em 2008, numa vitória que cimentou a conquista da Vuelta, e regressou em 2017 para brilhar no seu adeus ao ciclismo. Hugh Carthy triunfou em 2020, numa versão sem público devido à pandemia. Já em 2023, Primoz Roglic bateu o recorde recente com um tempo de 42:27, lado a lado com Jonas Vingegaard, no dia em que ambos deixaram para trás o líder de então, Sepp Kuss, num dos episódios mais dramáticos da história da Visma.
Parte do terror do Angliru reside também na forma como é enquadrado. Raramente surge isolado: antes dele, o Alto del Cordal serve de desgaste, com rampas duríssimas e uma descida técnica que coloca os nervos em franja. Quando o pelotão chega ao sopé do Angliru, a fadiga já é um adversário invisível. Daí até ao topo, a corrida transforma-se numa luta de sobrevivência, onde os verdadeiros trepadores expõem todas as fragilidades dos rivais.
A etapa de hoje não foge à regra. Depois de mais de 160 quilómetros de terreno maioritariamente plano, os ciclistas enfrentam o Cordal e mergulham diretamente para o inferno do Angliru. É, sem margem para dúvidas, um dos dias-chave da Vuelta 2025. Aqui, não basta sobreviver: é preciso atacar. Porque a história só recorda os que triunfam no cume.
Mais do que uma subida, o Angliru é um símbolo da identidade da Vuelta, a afirmação de que a corrida espanhola não teme a brutalidade na busca pelo espetáculo. As encostas estreitas, abarrotadas de adeptos que transformam a montanha num corredor humano, criam um ambiente único, parte festa, parte campo de batalha. Muitas vezes envolta em nevoeiro, a estrada parece perder-se nas nuvens, aumentando a mística.
Hoje, o Angliru voltará a escrever a sua própria história. Alguns favoritos vão ceder, outros resistirão e apenas um terá a honra de juntar o seu nome a Jiménez, Heras, Contador, Carthy e Roglic. Uma coisa é certa: mais uma vez, esta subida mostrará porque é temida, reverenciada e adorada como a mais cruel do ciclismo profissional.
Quem será o novo herói do Angliru em 2025?
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