Mathieu van der Poel chegou à Volta à Flandres de 2025 com confiança renovada. Trazia consigo a aura de campeão do mundo, a vitória em Sanremo, e a memória fresca da histórica dobradinha Flandres-Roubaix de 2024. No entanto, na corrida deste domingo, talvez tenha cometido o seu primeiro erro estratégico em muito tempo — tentou bater Pogacar à maneira de Pogacar.
Em vez de manter a frieza táctica que o caracteriza e usar os rivais como escudo, o holandês embarcou numa corrida de desgaste. Subida após subida, explosão após explosão, Van der Poel respondeu e, por vezes, liderou. Tal como o esloveno, correu à frente, expôs-se ao vento e à pressão... e, previsivelmente, acabou por pagar a fatura.
Se havia alguém com margem para esperar, era Van der Poel. Com Wout van Aert e Mads Pedersen no grupo, podia muito bem ter feito o papel de espectador ativo. Deixar Pogacar acumular responsabilidades, responder a ataques, marcar terreno. Poderia ter corrido com a inteligência de quem sabe que tem um sprint de classe mundial no final de 270 quilómetros de tortura flamenga.
Em vez disso, correu com orgulho, talvez com a memória fresca da Milan-Sanremo, onde bateu Pogacar de forma autoritária. Mas Flandres não é Sanremo. E o Oude Kwaremont não é o Poggio. Aqui, as subidas repetem-se, o desgaste é real, e Pogacar não precisa de muitos metros para desaparecer da vista.
O esloveno, habituado a subir montanhas nos Alpes e nos Pirenéus, voltou a fazer o que já tinha feito em 2023: destruiu o grupo com uma aceleração no Kwaremont e seguiu para a vitória. Van der Poel, por sua vez, ficou isolado, sem força para resistir, e acabou fora da luta pelo lugar mais alto do pódio.
Eddy Merckx venceu “apenas” duas vezes a Volta à Flandres. Porquê? Porque, como líder incontestável, os rivais uniam-se contra ele. Van der Poel pode ter chegado a um momento idêntico. Talvez tenha chegado a hora de deixar o individualismo de lado e procurar alianças tácticas em corrida. Trabalhar com um Van Aert, confiar num Pedersen, jogar xadrez com Pogacar em vez de tentar vencê-lo no braço de ferro.
Sim, o risco de ser batido ao sprint por outro rival existe. Mas essa é uma derrota aceitável. Perder sozinho para Pogacar nas subidas é, neste momento, quase inevitável. E repetir o cenário de 2023 não vai trazer resultados diferentes em 2026.
A corrida deste domingo foi um hino ao ciclismo ofensivo, e Van der Poel não perdeu dignidade — perdeu apenas porque tentou vencer Pogacar no seu próprio jogo. Talvez na próxima vez, o segredo passe por não jogar esse jogo.