"Podia ficar em estado vegetativo" Ciclista da FDJ fala dos motivos pelo qual se retira aos 32 anos

Ciclismo
sexta-feira, 17 outubro 2025 a 7:50
groupamafdj
Marc Sarreau, apontado durante anos como uma das grandes promessas do ciclismo francês, revelou pela primeira vez em detalhe os motivos que o levaram a terminar a carreira antes de completar 32 anos. Numa entrevista ao Le Parisien, o antigo ciclista explicou como as múltiplas quedas e traumatismos cranianos acabaram por comprometer a sua saúde, forçando-o a deixar o ciclismo por recomendação médica.
Nascido em 1993, Sarreau passou dez temporadas ao mais alto nível, representando equipas como a FDJ e a AG2R Citroën Team, conquistando 17 vitórias profissionais e vencendo a Coupe de France em 2019. Mas nos últimos anos, as quedas tornaram-se uma presença constante e com elas, vieram as sequelas.
“Todos os dias tinha dores de cabeça. Era difícil concentrar-me, sentia-me exausto. Já não conseguia treinar nem competir como queria”, confessou. “Por vezes, parecia que podia cair sozinho, sem razão. Já não me sentia reativo. Nada estava a correr bem.”
A deterioração era progressiva e afetava não só o desempenho em corrida, mas também o seu quotidiano. O diagnóstico médico confirmou o pior: o cérebro de Sarreau não estava a recuperar das concussões sofridas ao longo da carreira.

O adeus inevitável

Em setembro de 2024, o diretor da Groupama–FDJ, Marc Madiot, comunicou-lhe que a equipa não podia arriscar mais. Apesar de ter contrato por mais duas temporadas, a ausência de melhorias neurológicas desde o verão tornava impossível continuar a competir.
“Temiam que uma nova queda pudesse ter consequências ainda piores”, explicou Sarreau. Os exames neurológicos realizados pouco depois confirmaram a gravidade da situação. “Os resultados foram muito negativos. Queriam ver se havia progressos, mas não havia. Foi nessa altura que percebi que era grave.”
Um dos especialistas que o acompanhou foi ainda mais claro. “Disse-me: ‘Teve demasiados traumatismos cranianos. Agora tem uma fragilidade. Se voltar a cair, a situação pode piorar muito. Pode até ficar em estado vegetativo.’”
Marc Madiot, director da Groupama - FDJ
Marc Madiot, director da Groupama - FDJ
Foi o alerta definitivo. Sarreau compreendeu que continuar a pedalar ao mais alto nível, seria colocar em risco a própria vida.
Embora o ciclismo profissional tenha começado a introduzir protocolos de controlo e acompanhamento para concussões, a história de Sarreau demonstra que o caminho para a resolução do problema ainda é insuficiente. “No GP de Denain, em março, tive um acidente. No final da corrida, estava no carro errado. No hospital, o médico disse-me que tinha batido com a cabeça e eu nem me lembrava. Isso assustou-me”, relatou.

Uma nova vida longe do pelotão

Marc Sarreau retirou-se e procura adaptar-se a uma vida fora da competição, ainda a lidar com as sequelas que lhe afetam a memória e a concentração. “Antes, não me esquecia de nada. Agora a minha companheira tem de me lembrar de muitas coisas”, admite. “Apercebi-me de que o cérebro é como uma carta de condução com pontos. Aos poucos, fui perdendo os meus… e estive quase a ficar sem nenhum.”
A sua história, mais do que uma despedida, é um alerta sobre o custo humano das quedas no ciclismo e um apelo a que o desporto aprenda a proteger melhor aqueles que, muitas vezes, sacrificam o corpo e a mente pela vitória.
aplausos 0visitantes 0
loading

Últimas notícias

Notícias populares

Últimos Comentarios

Loading