A Arkéa – B&B Hotels estava condenada a abandonar o WorldTour neste inverno, mas o desaparecimento da equipa francesa é apenas o reflexo de um problema mais profundo no pelotão internacional. As desigualdades financeiras entre as formações aumentaram drasticamente nos últimos anos: enquanto algumas evoluíram para estruturas de topo, com orçamentos colossais, outras ficaram estagnadas e deixaram de ter meios para competir ao mais alto nível. Emmanuel Hubert, o chefe da Arkéa, é mais uma voz a defender a introdução de limites salariais que possam reduzir o fosso entre equipas.
Com a UAE Team Emirates – XRG a operar com um orçamento anual próximo dos 60 milhões de euros, as disparidades tornaram-se abismais. As formações de topo do WorldTour dispõem de recursos que chegam a ser três vezes superiores aos das equipas mais modestas, como era o caso da Arkéa. O resultado é uma concentração crescente de talento: os melhores ciclistas e as maiores promessas reúnem-se em meia dúzia de equipas, deixando as restantes a lutar pelas sobras.
É a evolução natural de uma modalidade cada vez mais mediática e no caso da Arkéa, o colapso atinge não apenas a equipa masculina, mas também a formação feminina e os programas de desenvolvimento. “É de partir o coração, sobretudo pelos meus 150 empregados. Somos uma família”, lamentou Hubert em declarações à RMC. “O ciclismo sofre de um formato demasiado exponencial, com equipas gigantes que nos levam a novos patamares. Talvez a UCI tenha de legislar sobre tectos salariais. Algo tem de ser feito, caso contrário o ciclismo morrerá.”
Apesar da época brilhante de Kévin Vauquelin, a Arkéa não conseguiu encontrar novos patrocinadores.
O tempo, porém, esgotou-se para a Arkéa. Nos últimos anos, a contratação de nomes como Nairo Quintana e Arnaud Démare parecia anunciar uma viragem positiva. No entanto, o colombiano acabou envolvido no caso de tramadol e foi afastado da equipa, enquanto o sprinter francês entrou num declínio progressivo nas últimas épocas. Em 2024, o jovem Kévin Vauquelin emergiu como o novo diamante da equipa, mas o seu talento não bastou para manter a licença WorldTour. As ProTeams rivais, mais estruturadas e ambiciosas, ultrapassaram a formação francesa em quase todos os critérios.
Durante meses, Hubert tentou encontrar novos patrocinadores que permitissem manter a estrutura, mesmo que apenas ao nível ProTeam. Mas as negociações não tiveram o final esperado e o destino ficou traçado: a Arkéa desaparece do mapa, deixando dezenas de ciclistas e funcionários sem trabalho. Entre eles, Wagner Bazin, que também termina a carreira este ano. E com a anunciada fusão entre a Intermarché e a Lotto, mais corredores e treinadores ficarão sem contrato, reforçando a sensação de que o ciclismo entrou numa nova era, em que só os mais ricos podem realmente competir.