"Solta uns peidos e vais melhorar" Yves Lampaert publica livro sobre a carreira, com histórias emocionantes

Ciclismo
domingo, 26 outubro 2025 a 1:00
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Yves Lampaert publicou o livro Forza Lampaert, escrito em colaboração com o jornalista Wouter Deboot, uma obra que combina memórias pessoais e uma reflexão profunda sobre a transformação do ciclismo profissional ao longo da última década. Aos 34 anos, o belga da Soudal - Quick-Step abre o coração sobre a forma como o desporto evoluiu - do estilo descontraído de outrora à precisão quase científica que hoje domina o pelotão.
Uma das histórias mais ilustrativas envolve o seu antigo colega Tom Boonen, com quem partilhou os últimos anos da carreira do campeão belga na Etixx - Quick-Step, atual Soudal - Quicl-Step.
"Há dez anos, ainda saíamos juntos na noite anterior a uma corrida", recorda Lampaert em entrevista ao Het Laatste Nieuws. "Isso foi há dez anos, e agora é uma raridade no pelotão. Em Münsterland, onde o Tom ganhou uma das suas últimas corridas, a média era de 42 km/h. Agora são 48. Já não nos podemos dar ao luxo de ter excessos".

"Comíamos o menu do hotel"

A evolução não se limitou ao treino ou à intensidade. Segundo Lampaert, a nutrição é talvez o campo onde o contraste é mais gritante. O belga recorda a sua vitória na Clássica de Arnhem-Veenendaal, em 2014, como exemplo de uma era em que o profissionalismo nutricional ainda estava longe de ser regra.
"Agora, cada equipa viaja com o seu próprio chefe e tudo é pesado. Mas no Topsport Vlaanderen, continuávamos a comer apenas o menu do hotel", contou.
O resultado foi imediato e doloroso...
"Durante a corrida, tive problemas de estômago. Na altura, ninguém falava de nutrição, apenas que devíamos comer uma barra e um gel por hora. No dia seguinte, acordei com dores horríveis. Uma hora depois da partida, voltei ao carro e disse ao nosso diretor, Hans De Clercq: ‘O meu estômago está completamente bloqueado. Hoje não podem contar comigo'".
A resposta do diretor foi tão direta quanto inusitada:
"Ele disse: ‘Solta uns peidos e vais melhorar.’ Fiz o que ele disse e... resultou. Ganhei a solo. Foi a minha primeira vitória profissional".

"Vivemos o período mais limpo do ciclismo"

Apesar do tom leve de algumas histórias, Forza Lampaert também oferece uma perspetiva séria sobre a evolução ética e fisiológica do desporto. Lampaert evita mencionar diretamente escândalos de doping, mas é claro na sua convicção de que o ciclismo atual é mais limpo do que nunca.
"Sempre fiz parte de equipas que ganham muito mas que aplicam tolerância zero. Quando me tornei profissional, o passaporte biológico e a política de não utilização de agulhas já estavam em vigor. Estou convencido de que vivo o período mais limpo do ciclismo. Vemos isso no nível de desempenho".
O belga explica que o sucesso no ciclismo moderno é o reflexo direto da forma e da condição física, não de artifícios externos:
"Quando tinha um bom dia, podia lutar pela vitória. Quando não estava bem, ficava para trás. É assim que deve ser. Houve corridas em que as pessoas perguntaram: ‘Como é que isso é possível?’ Mas eu penso, talvez ingenuamente, que era apenas um atleta fantástico num dia fantástico".

Um retrato entre o passado e o presente

Entre o humor e a honestidade, Lampaert pinta um retrato fascinante de um pelotão que se profissionalizou até ao limite. De corridas decididas à mesa do hotel a provas ganhas com precisão milimétrica, Forza Lampaert é mais do que uma autobiografia, é um testemunho da metamorfose do ciclismo moderno através dos olhos de um dos seus protagonistas mais genuínos.
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