Após meses de incerteza financeira, a estrutura liderada por
Brent Copeland garante a continuidade e prepara uma revolução tática sob a orientação de Gene Bates.
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Team Jayco AlUla viveu meses de autêntico pânico. A crise financeira que atingiu a equipa australiana em 2025 colocou em causa não só o futuro imediato do projeto, como também o lugar no pelotão WorldTour. Durante o verão, os ciclistas chegaram mesmo a ser autorizados pela UCI a procurar novas equipas, sinal de que o fim era uma hipótese real.
Hoje, a história é diferente. A equipa sobreviveu, garantiu financiamento para 2026 e volta a respirar confiança. “Conseguimos encontrar uma solução e resolver as coisas, agora está tudo tratado, por isso estamos ansiosos pelo futuro”, afirmou o diretor da equipa, Brent Copeland, ao
Cyclingnews.
De uma época atribulada à estabilidade
O ano de 2025 esteve longe de ser tranquilo para a Jayco. A luta pela manutenção na elite obrigou a uma gestão minuciosa de calendário e recursos, culminando num 16º lugar no ranking trienal da UCI, o suficiente para assegurar a licença WorldTour.
“Ganhámos a etapa rainha no Giro em Sestrière com Chris Harper e a etapa rainha no Tour com Ben O’Connor”, lembrou Copeland. “Fomos também uma das cinco únicas equipas a vencer uma corrida por etapas do WorldTour, com Paul Double. Mas terminámos em 16º lugar no ranking UCI que decide as licenças para o próximo ciclo.”
Esses resultados salvaram a época e, em parte, o projeto, mas deixaram claro que a equipa precisa de uma abordagem diferente para competir na era das super equipas, dominadas pela UAE Team Emirates - XRG e pela Team Visma | Lease a Bike.
Uma estratégia “sem sprinter” para 2026
Copeland quer evitar repetir o nervosismo de 2025. Para o triénio 2026–2028, a Jayco AlUla aposta num modelo mais pragmático e menos dependente de um líder para os sprints.
“Não estou a dizer que vamos correr como a XDS Astana correu este ano, mas vamos olhar estrategicamente para as corridas onde podemos ganhar pontos”, explicou. “Na era das super equipas, é difícil estar sempre do lado das vitórias, por isso temos de escolher melhor onde investir os nossos esforços.”
O plano passa por abdicar de um sprinter puro e focar-se em caçar etapas, Clássicas e classificações gerais em corridas de uma semana. A filosofia é semelhante à da Astana em 2025, mas com um toque mais tático e estruturado.
“As equipas estão desesperadas por começar a correr em 2026 e garantir que estão numa posição segura para os critérios de três anos”, reforçou Copeland. “Quando o Pogacar e a Emirates ganham tantas corridas, temos de nos adaptar. É lógico.”
Ben O'Connor foi um dos lideres da Jayco em 2025
Gene Bates assume o comando táctico
A execução dessa nova estratégia ficará nas mãos de Gene Bates, que regressa à estrutura australiana após uma década de colaboração intermitente. Aos 41 anos, Bates passa da direção da equipa feminina para o comando técnico e tático da formação masculina, com a missão de otimizar a pontuação UCI sem comprometer a visibilidade desportiva.
“Temos parceiros que querem ver a nossa camisola no pódio, mas, ao mesmo tempo, temos de tratar dos negócios em torno dos pontos”, explicou Bates. “O Ben O’Connor é capaz de ficar entre os cinco primeiros numa Grande Volta, e esse é um objetivo importante. Mas também temos ciclistas como Michael Matthews e Mauro Schmid, fortes nas Clássicas e corridas de um dia.”
“O papel da equipa de desempenho é dissecar a época e chegar a um nível superior de detalhar sobre o que queremos alcançar em diferentes momentos. Vamos fazer mais corridas de um dia, com mais pontos em jogo, e objetivos claros nas provas por etapas mais pequenas.”
Um novo rumo, mas o mesmo ADN
A Jayco AlUla sobreviveu à sua maior crise desde a fundação e, com o novo plano, procura consolidar-se como uma equipa sólida e inteligente, capaz de maximizar resultados com recursos limitados.
Com Ben O’Connor como homem de referência para as Grandes Voltas e uma estratégia baseada em versatilidade e realismo, o futuro parece finalmente mais estável. A reestruturação interna e a liderança de Gene Bates prometem devolver tranquilidade a um projeto que, por pouco, não se desfez e que agora quer provar que aprendeu com o susto.