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Volta a Espanha 2025 ficará marcada para sempre pela corrida dentro da corrida: a sucessão de protestos contra a presença da Israel - Premier Tech, que resultaram em três etapas neutralizadas ou interrompidas e culminaram no cancelamento da 21ª etapa em Madrid. O episódio final, em que milhares de manifestantes invadiram o percurso e forçaram a suspensão da cerimónia do pódio, deixou ciclistas, adeptos e organizadores em choque.
No podcast In Koers,
Dylan van Baarle descreveu a sensação de incredulidade e insegurança no dia em que tudo colapsou: “Nem sequer imaginava terminar em Madrid. Fomos parados no palácio e ficamos lá com muitos homens da Guardia Civil. De repente, a estrada tornou-se num inferno. Haviam pessoas por todos os lados dos carros. Era como estar no GTA. Uma situação muito estranha.”
O ciclista da Team Visma | Lease a Bike recorda que os corredores regressaram aos carros da equipa, percebendo rapidamente que não haveria chegada oficial à capital espanhola: “Ficamos sentados no carro a observar e vimos o que estava a acontecer. Aqueles tipos estavam a atirar barreiras, estavam a ir a todo o gás. Pensei: vamos embora daqui.”
Medo no pelotão
Se o desfecho em Madrid foi o ponto mais visível, outros episódios ao longo das três semanas causaram apreensão. Vários ciclistas sofreram quedas devido a movimentos imprudentes de manifestantes, com Simone Petilli e Javier Romo a serem obrigados a abandonar.
O veterano
Wout Poels, da XDS Astana, também relatou um momento de perigo real: “Tinha um na minha roda. O pelotão já tinha passado e eu estava a chegar, e aquelas pessoas estavam a saltar para a estrada. Atropelei um, mas não ia parar. Pensei:
vou-me embora daqui. Não pareciam muito amigáveis e fiquei um pouco assustado.”
O holandês fez ainda questão de sublinhar que não tinha qualquer ligação ao conflito que motivou os protestos: “Como se eu estivesse a causar todos aqueles problemas, quando na verdade estamos em concordância no tema. Alguns ciclistas foram realmente agarrados lá, o caso mais óbvio foi o de
Victor Guernalec na 21ª etapa.”
Uma edição sem precedentes
Entre etapas encurtadas, chegadas neutralizadas e uma final anulada, a Vuelta de 2025 mostrou de forma crua a vulnerabilidade do ciclismo profissional. Para muitos corredores, como Van Baarle e Poels, a experiência não foi apenas frustrante, mas também assustadora, um lembrete de que a abertura e proximidade do ciclismo com o público pode ser tanto a sua maior força como a sua maior fragilidade.