A relação entre a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) e a Podium Events chegou ao ponto de rutura e terminou de forma abrupta, depois de meses de desgaste interno e de dificuldades financeiras agravadas pelo incumprimento contratual da empresa responsável pela organização da
Volta a Portugal. A decisão, comunicada na segunda-feira, marcou um ponto de viragem na estrutura que gere a modalidade em Portugal, com Cândido Barbosa a afirmar que a situação se tornou “insustentável”.
O presidente da FPC, que cumpre o seu primeiro ano de mandato,
confirmou à agência Lusa que a Federação foi forçada a recorrer à banca para conseguir responder às exigências da gestão corrente. Segundo o dirigente, este passo tornou-se inevitável perante o não pagamento de verbas que estavam previstas no contrato de concessão com a Podium Events.
"A divida é elevada"
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O comunicado é aquilo que é, efetivamente é por falta de cumprimento do contrato, por ordem financeira. É um montante elevado. E como instituição não poderia… porque isto torna-se insustentável”, explicou Cândido Barbosa, apontando que o atraso acumulado criava um bloqueio difícil de superar, embora não tenha revelado valores.
A FPC já tinha anunciado publicamente o “incumprimento reiterado das obrigações contratuais e de pagamento por parte da Podium Events”, sublinhando que o problema se acentuou ao longo do último ano, apesar das várias tentativas de diálogo promovidas pela direção federativa. Para Cândido Barbosa, a conclusão tornou-se inevitável: “Ao fim de vários meses de negociação, achámos que não havia mais forma de mantermos um contrato que se torna completamente insustentável, porque esta casa tem uma direção, tem uma Assembleia Geral e reporta contas.”
O dirigente recordou ainda um episódio recente que ilustra a gravidade do cenário: “Eu, há duas semanas, tive de recorrer à banca para pagar a gestão corrente da FPC.” Perante a pressão acumulada, Barbosa reforça que a Federação estava há demasiado tempo a tentar solucionar o problema “É insustentável mantermos uma casa como esta, quando temos um parceiro que se vai arrastando ao longo dos anos, estamos a ficar com algumas dificuldades de gestão e há meio ano que andamos nisto”, admite.
Com o fim do contrato, a FPC assume agora a responsabilidade integral pela organização de três provas estruturantes do calendário nacional: a Volta a Portugal, a Volta ao Alentejo e a
Volta a Portugal do Futuro. Cândido Barbosa garante que, apesar do contexto, a Federação está preparada para assumir o comando da operação. “Há uma garantia neste momento, é que a única entidade organizadora e com a responsabilidade de organizar a Volta a Portugal, a Volta ao Alentejo e a Volta a Portugal do Futuro é a FPC. Essa é hoje a única verdade. A entidade organizadora é da responsabilidade da FPC. Vamos estudar um modelo de negócio para não corrermos os riscos que corremos até hoje. Este fim de contrato não foi um fim prematuro, foi um fim tardio, porque nós estamos em negociações com a Podium há meio ano”, afirmou.
A resposta da Podium Events chegou no dia seguinte ao comunicado da FPC. A empresa reagiu com dureza, acusando a FPC de “falta de decoro e lealdade” e declarando que soube do término antecipado do contrato através de patrocinadores da prova. A Podium rejeita a existência da alegada dívida, afirmando que esta “carece de base factual adequada e de validação conjunta”, e sustenta que não existe fundamento jurídico que legitime a rescisão unilateral anunciada pela Federação. A empresa garante ainda que recorrerá “a todos os meios ao seu dispor para assegurar a defesa integral dos seus direitos e legítimos interesses”.
A rutura abre agora um novo capítulo na organização da principal prova do ciclismo português, num momento em que a modalidade procura estabilidade e um modelo de futuro capaz de evitar que dependências financeiras externas voltem a colocar em risco eventos centrais do calendário nacional. O próximo desafio da FPC será assegurar que, em 2026, a Volta a Portugal decorra com normalidade e com condições dignas para equipas, patrocinadores e público, ao mesmo tempo que reconstrói um modelo que permita recuperar a confiança de todos os intervenientes.
Foto principal: Tiago Petinga / Lusa