Durante as primeiras 11 etapas da
Volta a França de 2025, a
Team Visma | Lease a Bike não escondeu a sua ambição, adotando uma estratégia de desgaste contínuo com o objetivo de enfraquecer
Tadej Pogacar e expô-lo a momentos de vulnerabilidade. No entanto, no primeiro verdadeiro embate nas montanhas, a ofensiva virou-se contra os próprios estrategas: Pogacar respondeu com autoridade esmagadora no Hautacam, destruiu os adversários e, ironicamente, viu a Visma implodir sob o peso da sua própria agressividade.
O norte-americano
Tom Danielson, ex-profissional e hoje analista atento do Tour, recorreu à sua conta na
plataforma X para deixar uma análise incisiva da etapa 12 e das dinâmicas táticas em jogo. “Desempenho incrível de Tadej Pogacar, que não deixou que a queda de ontem atrapalhasse os seus planos de ter uma exibição dominante”, comentou. “Ele minimizou os ferimentos e a forma como se sentiu, mas direi por experiência própria que 100% ele não estava. E, mesmo assim, dominou.”
Danielson acredita que, fisicamente limitado pela queda sofrida na véspera, Pogacar poderia ter ido ainda mais além, e que o seu rendimento deverá continuar a melhorar nas etapas seguintes, graças à forma sólida com que preparou a temporada. “Sim, ele poderia ter sido mais rápido hoje. A equipa mostrou uma enorme união e coesão, e o facto de verem o seu líder ultrapassar uma adversidade só vai reforçar a moral interna. Com base no que vimos até aqui, o Tadej vai ficar mais forte a cada dia que passa.”
Vingegaard está cada vez mais longe do sonho da terceira Camisola Amarela
Em contrapartida, a Visma acusou claramente a estratégia agressiva acumulada ao longo da primeira metade do Tour. A tentativa de impor ritmo em todas as etapas acabou por sair furada. “A Visma manteve o plano de partir o pelotão na 12ª etapa, e enquanto destruíam o pelotão, estavam também a autodestruir-se”, aponta Danielson. “Foi triste ver o Matteo Jorgenson a rebentar tão cedo e ver as suas esperanças de pódio desvanecerem. Ele explodiu literamente e foi deixado para trás enquanto a sua própria equipa puxava na frente.”
Pouco depois, seria o próprio
Jonas Vingegaard a sofrer. Isolado, sem equipa, e sem resposta para o ritmo imposto por Pogacar, o dinamarquês cedeu mais de dois minutos e ficou visivelmente exposto. “O Jonas também foi deixado para trás e perdeu mais tempo do que alguma vez me recordo te-lo visto perder numa primeira etapa de montanha. Isto levanta uma questão legítima: será que teve voto na definição desta estratégia? Em algum momento sugeriram recuar, ou sempre foi este o plano?”, questiona Danielson. “Penso que, daqui para a frente, a equipa tem de repensar seriamente a estratégia. Se tivessem corrido com mais contenção nas primeiras 11 etapas, o Jonas estaria hoje muito mais próximo do Pogacar na geral.”
Para Danielson, o colapso da Visma é o preço natural a pagar por uma abordagem excessivamente ofensiva e talvez mal calculada. A energia despendida nos dias anteriores teve um custo visível. “Este esgotamento vem do consumo excessivo de energia em comparação com os rivais. É isso que torna a segunda metade do Tour ainda mais difícil para ciclistas como o Jorgenson”, afirma. “Mas é importante não esquecer que um segundo lugar no Tour é um resultado enorme. Ele é, de facto, o segundo melhor ciclista desta edição. E isso é um feito notável.”
Nesse sentido, Danielson defende que a Visma deve reformular o seu foco e proteger o que ainda pode ser salvo. Com Vingegaard ainda sólido no pódio e com margem para recuperar algum terreno, a equipa precisa agora de apoiar o seu líder em vez de continuar a perseguir fantasmas. “A partir de agora, devem concentrar-se em ajudar o Jonas a fazer o melhor que puder. Ainda é possível fazer um belo Tour. A equipa pode correr bem, sentir-se bem e terminar com dignidade. Tudo o que vá para além disso é viver no passado, e isso não é produtivo.”
Danielson termina com um lamento por Matteo Jorgenson, uma das figuras da primeira metade da corrida, que se viu sacrificado numa estratégia que o ultrapassava. “Sinto-me mal pelo Matteo, pois ele não precisava de ser sacrificado desta forma. Espero que ainda tenha forças para conquistar uma etapa, ele merece isso. Mas agora a Visma precisa de parar, respirar, repensar… e correr de forma mais inteligente.”
Com Pogacar em alta, e a Visma forçada a uma redefinição interna, o Tour de 2025 entra numa nova fase: menos sobre agressividade cega, e mais sobre resistência, estratégia e capacidade de adaptação.