Transferência de Ben O'Connor: Tiro em cheio ou ao lado? Salvou a época com o Col de la Loze, mas o seu futuro na Jayco está em risco

Ciclismo
quarta-feira, 12 novembro 2025 a 9:00
BenOConnor
Aos 29 anos, Ben O’Connor atravessa o auge da sua carreira, mas a temporada de 2025 ficou aquém das expectativas. Depois de vários anos a crescer como figura central da Decathlon AG2R La Mondiale, o australiano decidiu regressar a uma estrutura do seu país, assinando pela Team Jayco AlUla. A mudança parecia natural do ponto de vista pessoal, mas os resultados levantaram dúvidas sobre se esta transição foi realmente positiva.

A saída da Decathlon: uma escolha de coração

A principal questão que paira sobre O’Connor é simples: sair da Decathlon foi o passo certo? Do ponto de vista emocional, sim. O australiano sempre admitiu que queria correr num ambiente mais familiar, rodeado de compatriotas, algo que a Jayco podia proporcionar. “Queria estar numa equipa australiana, num contexto em que me sentisse em casa”, confidenciou recentemente. Essa busca por conforto e equilíbrio mental pode justificar parte da decisão, ainda que o desempenho desportivo não tenha acompanhado essa transição.
Na Decathlon, O’Connor atingiu o pico da sua forma. Em 2021, venceu uma etapa de alta montanha e terminou em 4º lugar na Volta a França, um feito notável para um estreante nos grandes palcos. Nos anos seguintes, solidificou-se como um dos trepadores mais consistentes do WorldTour, com pódios no Critérium du Dauphiné, vitórias de etapa em provas de montanha e exibições de classe em percursos exigentes.
A temporada de 2024 foi, de longe, a sua melhor:
  • 2º no UAE Tour
  • 5º no Tirreno-Adriatico
  • 2º na Volta aos Alpes
  • 4º na Volta a Itália, com enorme regularidade
  • 2º na Volta a Espanha, apenas atrás de Primoz Roglic, após duas semanas memoráveis de Camisola Vermelha
  • 2º no Campeonato do Mundo de Zurique, atrás apenas de Tadej Pogacar
Um ano quase perfeito, que o colocou entre a elite dos trepadores de Grandes Voltas.

2025: um ano irregular e uma única luz nos Alpes

A estreia na Jayco AlUla não foi fácil. O australiano começou a época sem brilho, acumulando desempenhos discretos nas provas de primavera e terminando em 7º na Volta à Suíça, num pelotão sem grandes estrelas.
Chegou à Volta a França sem ambições de classificação geral, focado em vitórias de etapa. Tentou a sorte em várias fugas, sem sucesso, até à mítica jornada do Col de la Loze, onde mostrou novamente o seu ADN ofensivo.
Naquela que foi considerada a etapa rainha do Tour, O’Connor integrou a fuga inicial, atacou na subida final e venceu isolado, com uma exibição de garra e resistência que o colocou temporariamente no Top10 da geral. No entanto, perdeu esse lugar na 20ª etapa, quando Jordan Jegat aproveitou uma fuga bem-sucedida.
Esse triunfo solitário nos Alpes salvou o orgulho e evitou que 2025 fosse rotulado como um fracasso completo. Ainda assim, os meses seguintes foram cinzentos, sem mais resultados relevantes, deixando no ar a sensação de que o australiano rendeu muito abaixo do esperado.

Um futuro com pressão e poucas desculpas

A pergunta impõe-se: foi suficiente para justificar a mudança? Provavelmente não. A transferência para a Jayco AlUla revelou-se um passo mais emocional do que estratégico, e 2026 trará pressão adicional. Com a saída de outros líderes e a necessidade de consolidar o bloco de montanha, O’Connor terá de voltar a ser o pilar que foi na Decathlon, um ciclista combativo, regular e capaz de lutar por pódios nas Grandes Voltas.
A vitória no Col de la Loze mostrou que o talento continua lá. Falta apenas reencontrar o rumo que o levou, há poucos anos, a desafiar Pogacar e Roglic no terreno mais duro de todos: a alta montanha.
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