Francisco Galván atravessa um período particularmente difícil após a sua saída da
Equipo Kern Pharma, que rescindiu com o corredor depois de este publicar vários vídeos nas redes sociais que colocavam em risco a segurança rodoviária. Colocou a carreira em pausa após o fim do contrato com a equipa espanhola.
As imagens mostravam-no a descer a alta velocidade numa via com várias faixas e até a invadir a faixa de sentido contrário, um comportamento que a equipa considerou incompatível com a segurança rodoviária e com a imagem e valores do ciclismo profissional. A decisão foi imediata e marcou um ponto de viragem na carreira e na vida pessoal do corredor.
Dias depois de se tornar pública a sua demissão, Galván expôs a sua situação num texto publicado
na sua conta de Instagram. Um texto refletido e autocrítico, em que admite o erro, aceita as consequências e descreve de forma crua como a sua realidade mudou desde que ficou sem equipa. Longe de procurar desculpas ou simpatia, o corredor demonstra compreender o alcance do sucedido e o impacto que teve nele e nos que o rodeiam.
Na publicação, Galván relata episódios concretos que mostram quão abruptamente a sua vida mudou, como ter de vender o carro após perder o contrato profissional ou o vazio sentido ao regressar a pé a casa depois de fechar esse capítulo.
Fala também do seu estado emocional, a treinar vestido de preto como reflexo do que sente por dentro, e do paradoxo de continuar a ser reconhecido pelas pessoas enquanto carrega a vergonha de ter falhado. O corredor sublinha a dor de desiludir os pais e o círculo mais próximo e, em especial, o apoio da companheira, a quem chama o seu principal pilar nos momentos mais duros.
Kiko Galván cometeu um erro grave que lhe custou o lugar na Kern Pharma
Mensagem de Kiko Galván nas redes sociais
“Nunca pensei que tanta gente visse ciclismo. Sempre acreditei que éramos só alguns obcecados. Este ano tive de vender o carro depois de ter sido afastado da equipa. Saí do stand e fui a pé para casa. Foi aí que percebi como tudo pode mudar depressa. Desde então tenho treinado vestido de preto. Não pelo estilo, mas porque é assim que me sinto. E, mesmo assim, as pessoas reconhecem-me, param-me, fazem-me perguntas. E eu sorrio, mas por dentro tenho vergonha. Vergonha de ter falhado”.
“De desiludir os meus pais. Os meus. A minha namorada, que tem sido a única a amparar-me quando tudo desabava. Não escrevo isto para procurar pena nem para justificar nada. Cometi um erro. Um erro tem consequências e estou a pagá-las. Peço desculpa a quem se sentiu afetado. Deixar a bicicleta não me dói. Vivi o ciclismo como queria: a fundo, com coração, sem meios-termos. O que dói é sentir que desiludiste os teus. Essa é a parte mais dura. Hoje não me despeço. Estou apenas a fazer uma pausa. A respirar. E a seguir em frente, como puder, mas com os pés assentes na terra. Porque a vida nem sempre te deixa escolher o caminho, mas deixa-te escolher como o percorres".