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Uno-X Mobility vai encerrar a época de 2025 em clima de festa. A formação norueguesa-dinamarquesa garantiu oficialmente o estatuto World Tour para o triénio 2026-2028, uma conquista que parecia inatingível há apenas alguns anos. A par da XDS Astana Team, a estrutura escandinava foi uma das grandes vencedoras do ciclo de reclassificação da UCI, ascendendo ao principal escalão do ciclismo mundial.
Para a Uno-X, o feito representa mais do que uma simples promoção. É o culminar de um projeto nacional ambicioso, sustentado na aposta exclusiva em ciclistas noruegueses e dinamarqueses. Mas, como reconhece o diretor desportivo
Thor Hushovd, a verdadeira prova de fogo começa agora.
“É claro que o caminho será muito mais longo agora que escolhemos esta identidade”, afirmou o antigo campeão mundial à
NRK. “Temos muito menos ciclistas para contratar e estamos a competir com equipas com orçamentos muito mais elevados, que podem contratar quem quiserem, independentemente da nacionalidade.”
A filosofia Uno-X: talento nórdico acima de tudo
Desde a sua fundação, a Uno-X tem mantido uma política singular: contratar apenas ciclistas escandinavos. Essa filosofia, que começou por ser um obstáculo à expansão, tornou-se agora um símbolo de identidade e orgulho nacional.
A nova licença World Tour trará vantagens decisivas: maior visibilidade, acesso garantido às Grandes Voltas e um novo poder de atração sobre talentos que até agora olhavam para outras paragens.
“Agora as grandes estrelas dinamarquesas, e quero dizer mesmo grandes estrelas, querem vir para cá”, confessou Hushovd, com um sorriso. “Sem dizer nomes, mas fica a dica.”
A imprensa dinamarquesa não tardou a especular sobre o possível interesse da equipa em Mattias Skjelmose (Lidl-Trek), embora o cenário continue a ser um rumor. Ainda assim, o facto de o nome do craque ser mencionado já mostra como a perceção em torno da Uno-X mudou radicalmente.
Dinamarqueses rendidos ao projeto
Durante anos, o entusiasmo em torno da Uno-X era um fenómeno quase exclusivamente norueguês. Mas, à medida que o projeto cresceu e os resultados se tornaram mais visíveis, os ciclistas dinamarqueses começaram finalmente a acreditar.
“Nos dois anos em que estou na equipa, tive dificuldade em contratar dinamarqueses”, admitiu Hushovd. “Mas agora há um tom completamente diferente. Querem fazer parte disto.”
Para a temporada de 2026, o equilíbrio será mantido: três novos ciclistas noruegueses e três dinamarqueses reforçarão a equipa. Entre eles destaca-se o regresso de
Anthon Charmig, de 27 anos, que volta a vestir de amarelo e vermelho após dois anos na XDS Astana.
“O que me convenceu foi ouvir os meus antigos companheiros dizerem que me queriam de volta”, explicou Charmig no comunicado oficial. “Isso causou uma grande impressão.”
A atração do World Tour: de sonho a realidade
A entrada no WorldTour muda completamente o patamar de ambição da Uno-X. O acesso garantido à Volta a França durante três anos torna a estrutura nórdica um destino apetecível para ciclistas de topo, algo impensável há pouco tempo.
“Agora até os melhores ciclistas, como Jonas Vingegaard, tornam-se relevantes”, comentou Sondre Sortveit, antigo internacional norueguês sub-23. “Com um lugar fixo na Volta a França, a equipa passa a ser muito mais atrativa.”
De facto, o impacto simbólico da ascensão da Uno-X vai muito além dos resultados: é uma vitória para o ciclismo escandinavo, que há décadas procura espaço num panorama dominado por estruturas belgas, francesas e italianas.
As cautelas de Kaggestad: “É tudo uma questão de dinheiro”
Nem todos, contudo, partilham o entusiasmo absoluto. O antigo ciclista profissional Mads Kaggestad, que correu pela Crédit Agricole, deixou um aviso pragmático: o sonho World Tour tem um preço.
“É tudo uma questão de dinheiro”, afirmou o norueguês. “Estes projetos custam até 50 milhões de coroas por ano (cerca de 4.3 milhões de euros) e ocupam uma parte enorme do orçamento. É preciso perguntar se vale mesmo a pena.”
A Uno-X Mobility continuará a depender do apoio financeiro do grupo Reitan e dos patrocinadores noruegueses, enquanto tenta consolidar uma estrutura sustentável a longo prazo. Um desafio que exigirá não só vitórias, mas também gestão rigorosa e planeamento estratégico.
Um feito histórico com sabor a futuro
Apesar das dúvidas, a ascensão da Uno-X Mobility é um marco inegável. Em apenas seis anos, a equipa passou de equipa de desenvolvimento a projeto de referência para o ciclismo nórdico, provando que a identidade e a visão a longo prazo ainda podem triunfar num desporto cada vez mais globalizado.
“O que conseguimos é histórico”, concluiu Hushovd. “Mas agora temos de mostrar que pertencemos verdadeiramente ao World Tour, e isso será o maior desafio.”