A terceira etapa da
Volta a França 2025 ficará marcada pela polémica e por uma série de quedas violentas que deixaram ciclistas como
Jasper Philipsen,
Jordi Meeus e
Remco Evenepoel no chão. As consequências estenderam-se muito para lá do asfalto, com o jornalista
Thijs Zonneveld a não poupar críticas ao organizador da corrida, a ASO, e ao organismo máximo do ciclismo mundial, a UCI.
No podcast In De Waaier, o comentador neerlandês não escondeu a sua indignação com o que descreveu como "um planeamento irresponsável" de uma etapa "imprevisivelmente perigosa". A revolta surgiu após a queda que forçou Philipsen a abandonar a prova com várias fraturas, bem como o caos provocado nos metros finais, onde um estreitamento súbito da estrada e uma chicane imprudente originaram um ambiente de total descontrolo.
"Infelizmente, foi uma confusão que se adivinhava há dois ou três dias", disparou Zonneveld. "No papel, já parecia uma porcaria e, na realidade, era ainda mais porcaria. Não posso dizer mais nada".
O ponto mais crítico, segundo o jornalista, situava-se a três quilómetros da chegada: um estreitamento da estrada mal sinalizado, com as barreiras a obrigar o pelotão, com oito a nove ciclistas de largura, a comprimir-se para uma única faixa. "Podemos desenhar onde isso acontece. Quando eles cruzam, através da chicane, da direita para a esquerda... então vais ter uma colisão à esquerda. É muito triste dizê-lo, mas isto é apenas: f*da-se e descubra-se. Fazemos uma confusão do caraças e o resultado é este".
Zonneveld não tem dúvidas quanto às responsabilidades: "Há simplesmente duas partes que são responsáveis por isto. A ASO não está autorizada a fazer uma proposta deste género e a UCI tem de a aprovar. Ambos estão-se nas tintas, não posso dizer de outra forma".
A crítica estende-se à falta de ação concreta para proteger os ciclistas. "No ano passado, as equipas já tomaram as rédeas da situação mais vezes. É a única forma de o fazer. A ASO não o vai fazer, a UCI não o vai fazer, na verdade estão-se nas tintas para os ciclistas. Receio que o próximo passo seja as equipas tomarem medidas e talvez até processarem a ASO".
Zonneveld reconhece que medidas legais poderão ter consequências drásticas, como a exclusão de equipas das futuras edições da Volta, mas considera que essa “guerra” poderá ser inevitável. "A ASO dirá no próximo ano: ‘Meu, não venhas.’ Mas já não sei. Não sei o que é que deve provocar as mudanças".
O jornalista destacou também a repetição de situações semelhantes nas grandes voltas, com quedas a acontecer de forma regular por culpa de decisões negligentes. "É realmente um registo repetitivo. Ficamos cada vez mais zangados com isso. Toda a gente diz a mesma coisa: inacreditável, ficam desesperados, fazem-no outra vez".
Com apenas quatro oportunidades reais de sprint nesta edição da Volta, Zonneveld também rejeita a ideia de os ciclistas se recusarem a disputar determinadas etapas por motivos de segurança. "É claro que isso é exatamente o que não se deve fazer no desporto, ou seja, desistir antecipadamente. É muito mau que essa voz seja colocada na pele dos atletas. Isso é intrinsecamente errado".
A sua conclusão é simples, mas contundente: "Se o partido mais rico e mais poderoso do ciclismo e o partido que dita as regras só olham para os pássaros e para as folhas, em vez de olharem para: malta, este sprint não é possível... então está tudo dito".