Tadej Pogacar traçou a régua ao meio na sua época de 2026 - metade para o pavê, metade para a amarela - e não esconde a dimensão do que aí vem. Acabado de sair de um raro período de pausa, o campeão do mundo confirmou que o ano será construído em torno de duas frentes distintas: uma aposta total na
Milan-Sanremo e
Paris-Roubaix na primavera, seguida de um regresso focado à
Volta a França em julho.
“A minha época vai estar dividida em duas”,
disse em declarações recolhidas pela Bici.Pro. “Primeiro as Clássicas, depois a segunda parte será em função da Volta a França”.
É a primeira vez que Pogacar explicita a abordagem de forma tão direta, traçando uma linha clara entre o arranque de época focado nos Monumentos e a campanha de verão em que
volta a apontar ao topo do pódio em Paris.Se restavam dúvidas sobre o quanto deseja os dois Monumentos que lhe faltam, dissipou-as.
Ambições nas Clássicas: Sanremo, Roubaix… e persistência acima da tática
Para ele, o caminho é simples, mesmo que as corridas não o sejam. “Em corridas como Sanremo e Roubaix, não é preciso muita tática, é ir e tentar. E, se não resultar, tentar outra vez”.
A simplicidade da mensagem esconde a dureza do desafio. O seu arranque na Cipressa este ano foi o mais feroz da corrida, mas Filippo Ganna manteve-se na sua roda. Mathieu van der Poel voltou a negar-lhe a vitória no final. Pogacar não fugiu a reconhecer a dimensão da concorrência.
“Obrigam-me a subir o nível todos os anos, mas acho que também os empurro a fazer o mesmo. É uma grande motivação para todos”.
A estreia em 2026 pode até acontecer mais tarde do que em 2025, com Pogacar a sugerir que a primeira corrida poderá ser em março na Strade Bianche, uma escolha simbólica, dado o seu triplo triunfo nas estradas de gravilha da Toscana. Há também a possibilidade de começar mais cedo que o habitual,
dado que o esloveno demonstrou interesse em correr o Tour Down Under, que se disputa na segunda metade de janeiro.Volta a França: o segundo capítulo de 2026
O verão, como sempre, será planeado totalmente em torno do Tour. Ultrapassadas as Clássicas, muda tudo. “A segunda parte será em função da Volta a França”, reiterou Pogacar, deixando claro que a maior corrida do calendário continua a ditar metade da sua época.
As memórias de 2025, ano em que lidou com problemas no joelho e um grande desgaste mental, permanecem frescas. Foi precisamente por isso que reforçou o descanso neste outono, dividindo a pré-época entre jogos de padel, corridas em simulador e tempo com outros atletas.
“Experimentei várias coisas, nada de especial, apenas o que qualquer rapaz da minha idade faz,” afirmou.
Os números físicos e zero interesse num treinador mental
Pogacar quantificou até o esforço assombroso da vitória na Lombardia, em outubro. “Numa corrida como a Lombardia gastas mais de 1000 KJ por hora. Em seis ou seis horas e meia, chegas aos 6500 KJ. Diria que é bastante”.
Questionado se tal exigência o leva a trabalhar com um treinador mental, a resposta foi seca. “Não”.
Uma UAE Team Emirates em mudança e sonhos de Grandes Voltas a longo prazo
A
UAE Team Emirates - XRG de 2026 terá uma cara diferente: Juan Ayuso segue para a Lidl-Trek, Rafal Majka pendurou a bicicleta após anos de serviço leal, e Isaac Del Toro mantém a ascensão meteórica. “Temos uma equipa realmente forte”, disse Pogacar. “Estou feliz com o ambiente e com a relação com os meus colegas”.
Sobre a saída de Majka, acrescentou: “Foi fantástico correr com o Rafa. Partilhámos momentos e vitórias incríveis. Aprendi imenso com ele, vou sentir a falta dele”.
Quanto à Volta a Itália, os tiffosi terão de esperar por um regresso próximo. “Vou, com toda a certeza, voltar ao Giro, adorava, mas ainda falta”, afirmou, apontando qualquer regresso para 2027 em diante. Nem afastou a hipótese de fazer as três Grandes Voltas no mesmo ano: “Para um colecionador”, admitiu, “a Vuelta continua a ser um diamante em falta”.
Os objetivos já estão definidos: Sanremo, Roubaix e depois a Volta a França. A época de 2026 pode estar dividida em duas, mas cada metade exigirá o Pogacar por inteiro.