Ex-ciclista defende “teste de competência” antes de entrar no pelotão: “No caso do Jay Vine, poderia ter evitado muitas quedas”

Ciclismo
sexta-feira, 28 novembro 2025 a 17:00
Jay Vine
As preocupações com normas de segurança mais rigorosas no ciclismo profissional voltaram ao centro da discussão após Stef Clement defender a implementação de um teste básico de competências para todos os estreantes no pelotão. O ex-ciclista neerlandês apresentou a proposta durante o talk show De Laatste Etappe, transmitido no Wielergala em Utrecht, numa intervenção divulgada pela Wielerflits, apontando falhas estruturais na preparação dos novos profissionais.
Clement começou de forma autoirónica, recordando críticas à sua própria técnica. “Muitas vezes me diziam que não sabia manusear bem a bicicleta. E, olhando para trás, provavelmente tinham razão.” Mas rapidamente enquadrou a questão como um problema sistémico. “Não existe qualquer teste de competência que tenhas de passar antes de te tornares profissional.”
Segundo o ex-ciclista, os atuais critérios de acesso privilegiam a componente fisiológica sem garantir a aptidão para a corrida em pelotão. “Basta provares num ergómetro que tens motor e és largado no pelotão. É como seres autorizado a conduzir na Fórmula 1 apenas com carta de trator e esperar que corra bem. Alguma evidência de competência, umas noções básicas de condução de bicicleta, poderiam ser bastante úteis.”

Um sistema que privilegia números e ignora a estrada

Interpelado pelo apresentador Sander Kleikers com o exemplo de Jay Vine - que ascendeu ao WorldTour através da Zwift Academy - Clement não quis personalizar a crítica, mas deixou uma mensagem clara. “Bem, creio que poderíamos ter evitado muitas quedas. Para ele teria sido melhor fazer primeiro uma pequena formação intensiva.”
O neerlandês insistiu que a questão não está no talento, mas na experiência prática. Há ciclistas que chegam ao mais alto nível com um potencial físico excecional, mas com uma base insuficiente de condução em grupo, em alta velocidade e sob pressão. Um cenário que, na sua opinião, não deveria depender exclusivamente da aprendizagem em competição.
O histórico de quedas de Jay Vine é usado como exemplo para sustentar o argumento de Clement
O histórico de quedas de Jay Vine é usado como exemplo para sustentar o argumento de Clement

Proposta ganha espaço num contexto de preocupação crescente

A ideia de introduzir um teste formal de competências - uma espécie de padrão mínimo de condução de bicicleta para todos os novos profissionais - acrescenta um novo capítulo ao debate sobre a segurança no ciclismo moderno. Com velocidades cada vez mais elevadas, descidas mais técnicas, riscos acrescidos em pelotão compacto e entrada progressiva de ciclistas cada vez mais jovens no WorldTour, propostas que antes pareciam radicais começam agora a ganhar tração.
Resta saber se o pelotão, as equipas ou a UCI estarão preparados para assumir uma mudança desta natureza. O que os comentários de Clement evidenciam é que a mera potência já não é suficiente para garantir segurança e competitividade ao mais alto nível. O ciclismo atual poderá exigir redefinir o que significa estar “pronto” para a elite e esse debate está longe de terminar.
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