Jeannie Longo nunca teve pejo em dizer o que pensa e,
em conversa com a Cyclism’Actu, a lenda francesa deixou uma comparação marcante: ver
Tadej Pogacar despedaçar corridas fá-la lembrar-se dos seus melhores anos.
A múltipla vencedora da
Volta a França disse que sempre gostou de corredores que atacam de frente e vê esse espírito refletido no esloveno. “Gosto disso… E vou ser um pouco presunçosa, mas lembra-me de mim própria!”, afirmou Longo, acrescentando de forma simples: “Gosto de atacantes”.
Longo elogia a imprevisibilidade e a audácia tática de Pogacar
Longo foi mais longe, defendendo que Pogacar vence porque recusa seguir um guião previsível. “Acho que, taticamente, ele faz coisas que eu fazia, coisas originais”, explicou. Enquanto a modalidade muitas vezes espera que os líderes aguardem por uma subida específica ou pela última volta, Longo acredita que Pogacar triunfa precisamente por fazer o contrário.
“Não se deve atacar onde todos esperam. E é isso que o Tadej faz”, disse. “Tem um lado tático de que gosto muito: corajoso, imprevisível. E faz contrarrelógios de 80 quilómetros!”
Essa mistura de agressividade e imprevisibilidade é, no seu entender, o ciclismo como deve ser corrido.
O estatuto de “nação verdadeira” do ciclismo francês e a ascensão de novas estrelas
Longo falou também, com orgulho, da vaga atual de talento francês no pelotão masculino e feminino. De o triunfo de Pauline Ferrand-Prevot no Tour à ascensão rápida de Maeva Squiban,
Paul Magnier e
Paul Seixas, vê um país mais investido no ciclismo do que em qualquer momento da sua longa carreira.
“Acho que há muitos ciclistas”, constatou. Vivendo numa estrada de montanha, vê o boom diariamente e, crucialmente, muito mais mulheres na bicicleta do que no passado. “A França está a equipar-se com boas bicicletas; há agora toda uma população de praticantes”.
Mas advertiu que o talento é apenas o começo. “Chegar ao alto rendimento é sempre difícil: é preciso estabelecer prioridades, é preciso decidir ser atleta de topo. Não é fácil”.
O francês Paul Seixas subiu ao pódio ao lado de Tadej Pogacar e Remco Evenepoel no Campeonato da Europa
Sobre Seixas, expectativas francesas e apoio do público
Longo acredita que Paul Seixas pode um dia correr o Tour, mas alerta para a necessidade de não o apressar. “É jovem, não se deve queimá-lo”, advertiu. “Tem de ir passo a passo. Mas por que não o Tour? Sim, ele pode fazê-lo, mas é preciso poupá-lo”.
Refletiu também sobre aquilo a que o público francês mais responde. “O público francês gosta de franceses que ganham”, disse. “Se é mulher ou homem, é igual”. No seu tempo, a camisola amarela atraía multidões e vê o mesmo agora com Ferrand-Prevot, que foi “extraordinariamente bem apoiada” no último verão.
Para Longo, a longa espera por um vencedor francês masculino do Tour é real, mas normal. “Nem toda a gente ganha a Volta a França, há apenas um vencedor por ano. Não é fácil”.
No fim, as reflexões de Longo traçam o retrato de uma lenda que continua a seguir de perto a modalidade, a reconhecer os traços que definem os verdadeiros campeões e a orgulhar-se de ver o ciclismo francês florescer à sua volta. E, embora os seus dias competitivos tenham ficado para trás, a sua voz afiada, experiente e inconfundível continua bem presente na conversa.