A Milan-Sanremo foi o grande foco de atenção ao longo da última semana e, no fim de semana, confirmou-se como um enorme sucesso. Para além de um espetáculo de altíssimo nível, a corrida ficou marcada por um duelo memorável entre três lendas do ciclismo e por um facto histórico: pela primeira vez em quase 30 anos, a decisão surgiu na Cipressa, com um ataque de longa distância. A exibição de Tadej Pogacar foi particularmente elogiada, com Lance Armstrong a destacar a forma como a presença do esloveno transforma por completo qualquer corrida.
"Havia uma grande expectativa de que ele pudesse finalmente vencer a Milan-Sanremo e, para isso, precisava de uma grande equipa – que é exatamente o que tem", afirmou Armstrong no podcast The Move. "Ainda assim, achei que a UAE Team Emirates - XRG não esteve no seu melhor hoje".
A preparação para a corrida foi intensa, com meses de antecipação em torno de um possível ataque na Cipressa. A equipa levou um plantel de luxo para apoiar Pogacar e, na estrada, o plano esteve muito perto de funcionar na perfeição.
"Não era segredo. Já no ano passado disseram que queriam fazer a Cipressa em menos de nove minutos", recordou Johan Bruyneel. "Não sei qual foi o tempo exato, mas havia sempre a questão: mesmo que consigam, será que terão uma grande vantagem ou poderão ser apanhados entre a Cipressa e o Poggio? A verdade é que estes tipos já não correm segundo as regras tradicionais do ciclismo. Fazem as coisas à sua maneira e funciona".
A tendência para ataques de longa distância tem vindo a crescer no ciclismo moderno e, muitas vezes, revela-se eficaz. Pogacar já o demonstrou em várias ocasiões e, desta vez, apenas Mathieu van der Poel – um corredor de talento excecional – conseguiu segui-lo tanto na Cipressa como no Poggio. Caso o neerlandês não estivesse presente, o plano da UAE poderia ter resultado, garantindo ao esloveno o quarto Monumento diferente da carreira.
"Ter um corredor como Pogacar muda completamente as clássicas", continuou Bruyneel. "Com a sua força, a capacidade de atacar, recuperar e voltar a atacar, e a sua resiliência mental... Acrescenta um novo elemento a estas corridas. É uma abordagem totalmente diferente, algo que nenhuma outra clássica da primavera ou Monumento tem visto".
Apesar disso, Armstrong destacou que, no final do dia, quem mais o impressionou foi o próprio vencedor da corrida, Mathieu van der Poel. "Não sei se repararam, mas quando o Pogi atacou e o Ganna já estava a quebrar, o Van der Poel parecia estar completamente à vontade. Viram a cara dele? Parecia que tinha tudo sob controlo".