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Volta a França 2025 chegou ao fim com mais um capítulo a reforçar a lenda de
Tadej Pogacar. O esloveno arrecadou a sua quarta camisola amarela, igualando Chris Froome e consolidando-se como o grande ciclista da sua geração. Mas embora o triunfo final tenha sido indiscutivelmente seu, a história deste Tour não foi escrita por um só homem.
De Hautacam a Montmartre, passando por Vire e pelo icónico Mont Ventoux, a edição deste ano ofereceu uma narrativa rica em emoção, personagens improváveis e momentos memoráveis que recordam a essência do ciclismo: luta, coragem, superação. Aqui, revisitamos os cinco momentos que moldaram este Tour e que farão dele uma edição para recordar.
1. Pogacar conquista Hautacam e sela a geral com autoridade
Na 12.ª etapa, com final em Hautacam, Pogacar acabou com as dúvidas que ainda restavam. Um dia depois de uma queda em Toulouse, o esloveno respondeu com frieza e potência, atacando
Jonas Vingegaard nas primeiras rampas e cruzando a meta isolado, conquistando a sua 20.ª vitória em etapas da prova e recuperando a Camisola Amarela pelo caminho. A diferença de mais de dois minutos abriu um fosso intransponível. A partir desse dia, a luta pela geral estava acabada. O que se viu foi um Pogacar de outro nível. Impiedoso, calculista e, acima de tudo, imbatível.
Pogacar afundou Vingegaard no Hautacam
2. Van der Poel brilha na etapa 2 e reacende o espírito das clássicas
Mathieu van der Poel, que tantas vezes manifestou ceticismo em relação ao Tour, encontrou nas primeiras etapas de 2025 um terreno fértil para o seu talento. Na segunda etapa, o neerlandês deixou tudo na estrada: lançou o caos a 20 km do fim, respondeu a Pogacar com frieza e venceu com classe e raça. Foi a sua primeira vitória no Tour em quatro anos, celebrada com emoção e saudade. Infelizmente, uma pneumonia afastou-o na segunda semana, mas o seu impacto foi imediato e profundo. O Tour, por breves dias, respirou o ambiente das clássicas de abril.
Van der Poel mostrou porque é que é o rei dos clássicos em julho
3. Ben Healy, da ousadia à camisola amarela
O irlandês
Ben Healy não só venceu de forma brilhante a etapa 6, como transformou a sua combatividade em liderança na etapa 10, quando assumiu a Camisola Amarela após uma fuga de mestre. Foi o primeiro irlandês em décadas a liderar o Tour e o mais combativo no final da edição. A Camisola Amarela durou pouco, mas a imagem do seu estilo ofensivo ficará na memória. Healy afirmou-se como um dos ciclistas mais emocionantes do pelotão atual e um nome a seguir nos próximos anos.
4. Paret-Peintre conquista o Ventoux e o coração dos franceses
Numa montanha marcada por glórias e tragédias, Valentin Paret-Peintre escreveu a sua página de história ao vencer a etapa do Mont Ventoux. Foi a primeira vitória francesa na mítica subida em 23 anos. A emoção do jovem da Soudal - Quick-Step, cruzando a meta com lágrimas nos olhos, ecoou em todo o país. A vitória surgiu poucos dias depois da desistência de Remco Evenepoel, o líder da sua equipa, tornando este triunfo ainda mais simbólico. Foi um momento que transcendeu o desporto, foi redenção nacional.
5. Wout van Aert faz Pogacar ceder em Paris
Num final de Tour que muitos previam cerimonial, Wout van Aert ofereceu um verdadeiro espetáculo em Montmartre, vencendo a última etapa e tornando-se o primeiro a descarregar Pogacar com um ataque direto em toda a corrida. A vitória não foi apenas a sua décima no Tour, mas também o desfecho glorioso de três semanas de persistência da Team Visma | Lease a Bike, que tanto tentou e tão pouco conseguiu. Van Aert devolveu emoção ao derradeiro dia e mostrou que o ciclismo, mesmo com campeões dominadores, continua a ser feito de momentos imprevisíveis.
Van Aert foi o único homem que conseguiu deixar para trás Pogacar
Muito mais do que um passeio triunfal
Apesar do domínio de Pogacar na geral, a Volta a França de 2025 foi tudo menos monótona. Cada semana trouxe protagonistas diferentes e histórias paralelas que enriqueceram a corrida: a resiliência de Evenepoel antes da desistência, a ascensão de Florian Lipowitz, os dias de glória de Ben Healy, o carisma fugaz de Van der Poel e a classe eterna de Van Aert. Até a luta pela camisola da montanha e dos pontos teve momentos quentes.
O domínio de Pogacar é real e, para alguns, preocupante. Mas em 2025, o Tour provou que há sempre espaço para surpresas, redenções e ataques com alma. Afinal, é por isso que todos os anos, em julho, paramos para assistir.