A análise de Philippa York à 9ª etapa da
Volta a Espanha 2025, em Valdezcaray, resume uma primeira semana onde
Jonas Vingegaard já redefiniu a corrida. Para a analista britânica, o dinamarquês mostrou um lado inesperado: "Vingegaard surpreendeu-os quando menos esperavam", disse.
Vingegaard rasga o guião
O que muitos antecipavam como um duelo cauteloso pela classificação geral transformou-se numa exibição ousada do líder da Team Visma | Lease a Bike. York destacou o aparecimento de "um novo e dinâmico Vingegaard" em Espanha, decidido a aproveitar as oportunidades em vez de esperar pacientemente pelo momento ideal.
Antes da Vuelta, a teoria era clara: Vingegaard só atacaria nas chegadas mais duras ao alto. No entanto, a vitória logo na 2ª etapa já indiciava uma postura diferente. A confirmação chegou em Valdezcaray, onde atacou no que se previa ser um impasse entre os homens da geral.
"Os dois dias em Andorra não abriram espaço, por isso manteve-se calmo, seguiu
João Almeida e deixou a UAE e os restantes numa falsa sensação de segurança", explica. "Depois, quando todos pensavam que Valdezcaray seria neutro para a classificação geral, ele atacou e deixou a Emirates a tentar perceber o que tinha acontecido".
Vingegaard deu um murro na mesa na 9ª etapa da Vuelta
Almeida, observa York, "não estava atento e não ocupou o lugar que devia, colado à roda traseira do dinamarquês". A consequência foi uma perseguição desgastante. "Numa subida tão rápida, teria provavelmente aguentado na roda de Vingegaard, mas dificilmente o batia no sprint final. Este novo Vingegaard dinâmico é bastante rápido".
O puzzle da liderança da UAE
Se a força de Almeida ficou mais clara, já a estratégia global da UAE Team Emirates - XRG continua envolta em contradições. Juan Ayuso, outrora considerado co-líder, já perdeu quase 22 minutos, o que levou York a concluir que "a questão de quem é o líder da equipa ficou resolvida bem cedo nesta Vuelta".
Mas o papel de Ayuso não está a contribuir para Almeida. "Se ele ainda consegue brilhar numa etapa de montanha, então porque fica sentado atrás, sem utilidade para o líder? Não faz sentido. Ele tem qualidade para estar no grupo da geral, e quando se corre contra alguém como Vingegaard, cada apoio conta", criticou.
Na Visma, pelo contrário, as lições parecem assimiladas. York sublinha que a equipa já percebeu os cenários possíveis e que "Sepp Kuss precisa de estar pronto para cobrir qualquer jogada dos Emirates".
A luta aberta pelo pódio
Com Vingegaard e Almeida em confronto direto pela camisola vermelha, a disputa pelo pódio mantém-se incerta. "Há vários ciclistas a sofrer, mas ainda acreditam que o pódio é possível", escreve.
Giulio Ciccone (Lidl-Trek) foi o mais penalizado na 9ª etapa, "gravemente queimado" pelo ritmo de Vingegaard, enquanto Felix Gall e Tom Pidcock permanecem bem colocados. O Angliru, na 13ª etapa, "será o momento em que descobriremos onde cada um se posiciona na hierarquia".
As diferenças continuam curtas: menos de 90 segundos separam o 10º do 16º classificado. Para York, esse equilíbrio abre espaço para trepadores como Lorenzo Fortunato, Jai Hindley ou Giulio Pellizzari, os 2 últimos da Red Bull. Também Egan Bernal e Matteo Jorgenson são apontados como homens capazes de aproveitar oportunidades táticas para subir ao top 10.
Olhando para a segunda semana
A primeira semana já ofereceu surpresas: David Gaudu superou Mads Pedersen ao sprint, e Torstein Traeen chegou ao descanso vestido de vermelho para a Bahrain - Victorious. Mas o verdadeiro momento chave aproxima-se.
"O Angliru, na 13ª etapa, será o grande ponto de viragem", conclui. "Os Emirates têm de rever a sua estrutura tática, Almeida não pode cometer erros, e Vingegaard provou que pode vencer de várias formas. Tudo ainda pode acontecer, mas uma coisa é certa: Jonas Vingegaard vai magoar toda a gente".