O adeus de Lars van der Haar: sexto lugar no último Koppenberg da carreira

Ciclocrosse
domingo, 02 novembro 2025 a 5:00
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Pela última vez na sua longa e prestigiada carreira, Lars van der Haar enfrentou as encostas lamacentas do Koppenbergcross, a corrida mais icónica e implacável do calendário de ciclocrosse. No dia 1 de novembro, o holandês da Baloise Glowi Lions terminou em 6.º lugar, numa jornada simbólica que marcou o fim de uma era na modalidade.
“Foi assim. Foi uma bela edição e aproveitei-a o mais possível”, declarou Van der Haar ao In de Leiderstrui, visivelmente emocionado após cruzar a meta.
Apesar da satisfação com o momento, o veterano de 34 anos reconheceu que o seu arranque comprometido lhe custou um resultado ainda mais expressivo.
“Se eu tivesse tido um melhor arranque, poderia ter feito mais. Mas não aconteceu. Desde o início, quase não avancei. Não sei bem porquê. Às vezes começo bem aqui, outras vezes mal. E hoje foi mau.”
Mesmo sem o arranque ideal, Van der Haar manteve o ritmo e terminou com um sólido sexto lugar, numa corrida disputada sob o tradicional empedrado e lama do Bult van Melden.
“Fiz os mesmos tempos por volta durante toda a corrida e, depois, sabe-se sempre que alguns vão falhar. Mas, para ser honesto, não sabia exatamente onde estava na corrida.”

Do júnior ao campeão: uma vida no Koppenberg

O anúncio da reforma de Van der Haar, feito no início da semana, não foi por acaso. O ciclista quis partilhar a notícia antes do Koppenbergcross, uma prova repleta de memórias pessoais e significado emocional.
“Já corria aqui em júnior, quando a meta ainda estava no fundo. Ao longo dos anos, tive muitas histórias aqui: desde discutir com a minha mãe até subir ao pódio com Sven Nys e acabar por ganhar duas vezes.”
O holandês, um dos ciclistas mais consistentes do ciclocrosse moderno, acumulou 41 vitórias profissionais, incluindo títulos nacionais e europeus, e tornou-se uma figura central da Baloise Glowi Lions. Após o anúncio, as reações não tardaram:
“Houve mais reações do que eu esperava. Centenas, de facto. E os meios de comunicação social holandeses também se interessaram muito mais do que eu pensava, até a NOS enviou uma câmara durante o período eleitoral. Isso é muito fixe.”
Para Van der Haar, a onda de reconhecimento foi surpreendente:
“Quando se está no mundo do ciclocrosse, não se está à espera disto. Temos sempre a sensação de que só somos tão bons como a nossa última corrida. Mas, aparentemente, não é bem assim.”
Lars van der Haar obteve 41 vitórias profissionais até à data
Lars van der Haar obteve 41 vitórias profissionais até à data

Os sacrifícios e a decisão de parar

A decisão de se retirar nasceu do cansaço mental e dos sacrifícios constantes que o ciclismo profissional exige.
“Reparei que os sacrifícios estavam a tornar-se mais difíceis e, a certa altura, começa-se a sentir isso nos treinos. Este ano, piorou. Sentia-me incrivelmente infeliz em cima da bicicleta nas corridas de estrada. Não me via a fazer isso durante mais um ano.”
O holandês descreveu com franqueza o custo pessoal da carreira:
“Pense nas coisas de que tem de abdicar: não visita os amigos ou a família, deita-se sempre cedo, não bebe álcool... e não leva a sua filha ao parque infantil porque pode ficar com os músculos doridos no dia seguinte. A certa altura, deixamos de ficar satisfeitos com isso.”

“Agora é um mundo diferente”

Num tom nostálgico, Van der Haar refletiu sobre as mudanças no ciclismo moderno, que considera menos espontâneo e mais dependente da ciência dos dados.
“Quando comecei, não havia tantos dados. Divertíamo-nos. Agora, tudo se resume a potências, nutrição, sono... Tudo é mensurável e é disso que toda a gente fala o dia todo. Entretanto, eu digo: pessoal, vão andar de bicicleta. Agora é um mundo diferente.”
O adeus de Van der Haar representa o fim de uma geração que cresceu entre a lama e a paixão pura pelo ciclocrosse, antes de a disciplina se tornar um laboratório de métricas e watts. Um adeus tranquilo, sincero e profundamente humano, à imagem de quem sempre correu com cabeça fria, mas coração quente.
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