Johan Bruyneel voltou a apontar o dedo à UCI e à gestão de David Lappartient, desta vez a propósito da suspensão de
Oier Lazkano por anomalias no passaporte biológico. O antigo diretor desportivo belga, conhecido pelas suas posições críticas, sugeriu que o organismo máximo do ciclismo aplica critérios diferentes consoante a reputação dos ciclistas.
"Não conheço Lazkano pessoalmente e não o estou a defender. Também sou um defensor do passaporte de sangue. Algo mudou claramente quando foi introduzido em 2008. No entanto, não se trata de um ‘método preto e branco’. É uma interpretação de um especialista", afirmou Bruyneel no podcast The Move.
O caso Lazkano e as dúvidas sobre a imparcialidade da UCI
O caso que abalou o pelotão surgiu na semana passada, quando Oier Lazkano, uma das revelações espanholas das últimas temporadas, foi suspenso provisoriamente após quatro amostras com valores anormais entre 2022 e 2024. O ciclista, que não apresentou qualquer teste positivo para substâncias proibidas, viu o seu contrato rescindido pela Red Bull - BORA – Hansgrohe, equipa pela qual não competia desde abril.
A situação agravou-se quando a polícia apreendeu o seu telemóvel, computador portátil e dados pessoais como parte de uma investigação em curso.
Froome testou positivo para Salbutamol em 2017, mas não foi suspenso por causa disso. @Imago
Bruyneel, que sempre defendeu a necessidade de combater o doping com transparência, voltou a questionar a seletividade do sistema. "Surpreende-me que este passaporte biológico nunca apanhe um peixe grande. É tudo uma questão de favoritismo. A UCI está a visar as suas presas fáceis", afirmou.
"Repito: o passaporte biológico é útil. Mas deve ser usado como uma ferramenta para identificar potenciais batoteiros, para que possam ser apanhados durante um teste de doping adequado".
"Dois pesos e duas medidas"
Bruyneel foi ainda mais longe, comparando o caso de Lazkano a outros episódios mediáticos em que, segundo ele, a UCI mostrou maior tolerância.
"A explicação de Froome foi suficiente, tal como a de Katerina Nash, vice-presidente da UCI, que testou positivo para a capromorelina em 2022. Por outro lado, o ciclista belga Toon Aerts foi suspenso por dois anos. Dois pesos e duas medidas", criticou.
O técnico belga recorda o caso de
Chris Froome, que em 2017 testou positivo para uma quantidade de salbutamol acima do limite permitido durante a Volta a Espanha. O britânico foi posteriormente ilibado após alegar que a dose se devia a uma crise de asma, explicação que a UCI aceitou sem aplicar sanção.
Bruyneel vê aí o cerne do problema: a inconsistência das decisões. "Há casos em que uma justificação médica ou circunstancial é aceite e outros em que o ciclista é imediatamente suspenso e ostracizado. Não há uniformidade, e isso destrói a confiança no sistema".
Um sistema sob escrutínio
O passaporte biológico, introduzido pela UCI em 2008, monitoriza os valores sanguíneos dos ciclistas ao longo do tempo, procurando desvios que indiquem manipulação artificial. Mas, como nota Bruyneel, o método não é uma prova direta de doping, dependendo sempre da interpretação de especialistas e das margens de erro dos próprios parâmetros.
Embora a maioria dos observadores concorde que o sistema tornou o desporto mais limpo, casos como o de Lazkano reacendem o debate sobre transparência, equidade e reputação.
Bruyneel encerrou o seu comentário com uma provocação direta: "A UCI gosta de mostrar que faz justiça, mas escolhe cuidadosamente as suas vítimas. Enquanto isso, os verdadeiros tubarões continuam a nadar livres".