ANÁLISE - Os momentos que fizeram de Geraint Thomas uma lenda do ciclismo

Ciclismo
segunda-feira, 08 setembro 2025 a 8:30
Chris Froome/Geraint Thomas
Ontem, no coração do País de Gales, Geraint Thomas completou a sua última corrida como profissional na Volta à Grã-Bretanha de 2025, encerrando uma carreira de 19 anos marcada por títulos olímpicos, clássicas, etapas e, acima de tudo, a glória da Volta a França de 2018. Aos 39 anos, o galês despediu-se em casa, em Cardiff, perante multidões que o acompanharam como herói nacional, celebrando não apenas o campeão, mas o homem que encarnou humildade e espírito de equipa ao longo de quase duas décadas.

Das ruas de Cardiff ao ouro olímpico

Nascido em 1986, Thomas cresceu nos arredores de Cardiff, a poucos metros do velódromo de Maindy, onde deu as primeiras pedaladas. Esse acaso geográfico lançou a base de uma carreira que cedo brilhou na pista: campeão olímpico em Pequim 2008 e Londres 2012 na perseguição por equipas, parte da geração dourada que levou o ciclismo britânico ao topo. Aos 22 anos, já era MBE, e mais tarde receberia também o título de OBE.
Geraint Thomas despediu-se do pelotão no domingo
Geraint Thomas despediu-se do pelotão no domingo

A era Sky e o papel de pilar

Em 2010, foi um dos rostos fundadores da Team Sky, equipa que redefiniu o ciclismo moderno. Durante anos, Thomas foi o “faz-tudo” fiável: aguentava paralelos, lançava contrarrelógios, subia montanhas e guiava líderes como Chris Froome em jornadas decisivas. Ganhou respeito como gregário de luxo, mas cedo mostrou ambições próprias: vitórias na E3 Harelbeke (2015) e no Critérium du Dauphiné (2018) confirmaram a sua polivalência.

O verão de 2018: consagração no Tour

O auge chegou na Volta a França de 2018. Oficialmente co-líder ao lado de Froome, Thomas assumiu a camisola amarela nos Alpes e nunca mais a largou. As vitórias em La Rosière e no mítico Alpe d’Huez, vestido de líder, marcaram para sempre a sua carreira. Em Paris, tornou-se o primeiro galês vencedor do Tour, levando consigo a bandeira do dragão vermelho. O país parou para celebrar e Cardiff recebeu-o em festa, coroando o seu herói.

Quedas, azares e resiliência

A carreira de Thomas também ficou marcada por quedas e ossos partidos: do abandono no Giro 2017 após um choque com uma mota, à fratura da pélvis no Giro 2020, ou à clavícula partida no Tour 2017 quando vestia de amarelo. Mas sempre voltou mais forte. Em 2019, foi 2º na Volta a França atrás de Egan Bernal. Em 2022, conquistou a Volta à Suíça e subiu novamente ao pódio do Tour, provando longevidade e consistência. Em 2023, no Giro, foi líder até à penúltima etapa, apenas batido por Roglic no contrarrelógio final, mas respondeu conduzindo Mark Cavendish ao triunfo na derradeira jornada, um gesto que simboliza quem sempre foi.
Thomas e Cavendish eram grandes amigos também fora da bicicleta
Thomas e Cavendish eram grandes amigos também fora da bicicleta

O fim em Cardiff

A despedida, na etapa final da Volta à Grã-Bretanha 2025, foi emotiva. Vestido com uma camisola especial com o dragão vermelho e um desenho do filho, cruzou a meta em Cardiff rodeado de aplausos, lágrimas e gratidão. Fechou o círculo no mesmo sítio onde começou a pedalar, em Maindy, transformando a corrida numa celebração da sua carreira.
Geraint Thomas em Pontypool Park, País de Gales
Geraint Thomas em Pontypool Park, País de Gales

Legado

Geraint Thomas retira-se como um dos ciclistas mais importantes da história britânica. De gregário leal a campeão do Tour, de ícone olímpico a mentor de novas gerações, deixa um legado de profissionalismo, humor e resiliência. Mais do que os títulos, será recordado pela forma como elevou os colegas, inspirou jovens ciclistas e nunca esqueceu as suas raízes.
Do miúdo que dizia que “os de Cardiff não ganham o Tour” ao homem que o conquistou, Thomas mostrou que os sonhos podem ser maiores do que o lugar onde nascem.
Obrigado, Geraint. Diolch yn fawr.
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