O antigo campeão do mundo de contrarrelógio e vencedor da Volta a Itália,
Tom Dumoulin, prestou homenagem à ascensão meteórica de
Jonas Vingegaard, recordando os tempos em que ambos partilhavam a camisola da
Jumbo-Visma.
Em entrevista ao AS, o neerlandês, que pendurou a bicicleta em 2022 aos 31 anos, confessou nunca ter imaginado que o dinamarquês viria a dominar a Volta a França, e admitiu que o ciclismo atual atingiu um nível tão exigente que se sente "aliviado" por já não estar no pelotão.
"Podia dizer que sim, mas, honestamente, não", respondeu quando questionado se acreditava que Vingegaard chegaria a vencer várias grandes voltas. "Ele sempre foi um grande ciclista, mas o passo que deu é incrível. Admiro muito a sua força e dedicação. Mudou completamente a sua mentalidade, de um gregário para um dos melhores ciclistas do mundo".
"Estou feliz por não ser ciclista agora"
Dumoulin reconhece que o desporto evoluiu de forma quase irreconhecível desde a sua retirada. "Já o era antes, claro, mas agora é incrível ver como os ciclistas se tornaram tão bons", afirmou. "Na verdade, estou feliz por não ser um ciclista agora, e tenho muito respeito por aqueles que são".
Apesar da admiração por Vingegaard, Dumoulin não escondeu a frustração que sente ao ver
Tadej Pogacar dominar com tamanha autoridade. "O que ele está a fazer é inacreditável, e por vezes um pouco aborrecido", reconheceu. "É espantoso ver, possivelmente, o melhor ciclista de sempre, mas quando ele ataca a 75 quilómetros do fim, pensamos: ‘OK, é isso’. A corrida acabou. Continua a ser incrível de ver, mas por vezes gostava de ver um pouco mais de suspense".
As batalhas entre Pogacar e Vingegaard na Volta a França marcaram uma geração, redefinindo o nível de exigência do ciclismo moderno, um cenário que, segundo Dumoulin, deixa qualquer antigo campeão consciente da diferença abissal para o presente.
Dumoulin teve em 2017 e 2018 os melhores anos de carreira, onde conquistou o Giro, foi 2º no Tour e campeão mundial de CRI
Ayuso, Lidl-Trek e o renascimento do ciclismo espanhol
O neerlandês destacou também o surgimento de uma nova geração de talentos, com especial atenção a
Juan Ayuso, cuja mudança da UAE Team Emirates - XRG para a Lidl-Trek gerou debate. "A Espanha produzirá sempre bons ciclistas porque tem uma história muito rica, mas os últimos anos foram difíceis", apontou. "Tenho grandes esperanças em Juan Ayuso. É um grande talento que ainda tem coisas a aprender para chegar ao nível de Pogacar ou Vingegaard, tanto fisicamente como como líder".
Sobre a transferência do espanhol, Dumoulin mostrou total apoio: "Ele é ambicioso, não quer ser um gregário, isso é claro. Quer ser líder, e penso que esta mudança é a melhor para ele e para a equipa. Apoio-o totalmente".
Uma nova vida longe do pelotão
Desde a reforma, Tom Dumoulin trocou o ritmo frenético do WorldTour por uma vida mais serena e saudável, sem deixar o desporto. "Estou a gostar muito. A vida é boa e nunca pensei em voltar", garantiu. "Estou feliz e orgulhoso da minha carreira, mesmo dos anos difíceis no final, moldaram-me como pessoa. Acho que precisava desses anos, e agora estou genuinamente feliz".
O antigo campeão encontrou uma nova paixão na corrida de fundo. Em outubro, completou a Maratona de Amesterdão em 2h29m21s, um tempo notável para um ex-profissional do ciclismo. "Adoro desporto em geral, mas correr é algo de que gosto muito", contou. "O meu objetivo era correr abaixo das duas horas e meia, e consegui. Agora é só por prazer. O meu sonho seria correr um dia a Maratona de Nova Iorque. Sei que posso melhorar talvez dez minutos, mas não quero voltar a ser profissional".
Sereno e em paz com o passado, Dumoulin continua a acompanhar o ciclismo com admiração, mas sem nostalgia. "Escrever o meu livro lembrou-me de como o ciclismo pode ser divertido", concluiu. "Por isso, eu diria: leia-o, e depois vá dar uma volta".