“O mais difícil no ciclismo é manter essa descontração”: Romain Bardet aconselha o luso descendente Paul Seixas

Ciclismo
quarta-feira, 26 novembro 2025 a 22:31
bardetseixas
Paul Seixas entrou no ciclismo profissional com estrondo. Sobretudo no final da época, o ainda júnior venceu o Tour de l'Avenir, foi medalha de bronze no Campeonato da Europa em elites e depois foi 7º na Il Lombardia. Um feito notável para quem só fará 20 anos em setembro. E, para os adeptos franceses, um forte motivo de otimismo após uma década em que os seus “dauphins”, Romain Bardet e Thibaut Pinot, não conseguiram pôr fim ao jejum gaulês na Volta a França que dura desde o quinto título de Bernard Hinault, em 1985.
“É preciso ter em mente que a carreira pode parecer curta [para quem vê de fora], mas é longa [para os próprios corredores]”, disse na Ouest France o vencedor de quatro etapas no Tour e de uma camisola das bolinhas, Bardet.
O próprio francês foi, em tempos, a grande esperança do ciclismo gaulês e, a par de Thibaut Pinot, o peso das expectativas acabou por se tornar uma carga demasiado pesada. Aos 25 anos, Bardet foi segundo na Volta a França, a quatro minutos de Chris Froome.
romainbardet 2
Com o fim da carreira de Bardet, fechou-se uma "geração romântica" de ciclistas franceses
E apesar de ter assinado muitas épocas produtivas, incluindo a seguinte, quando ficou apenas a 2 minutos de vencer a Volta a França, terminando em terceiro, Bardet foi aos poucos desviando o foco para outros objetivos. Talvez numa tentativa de escapar à pressão dos adeptos franceses.

Tomar Bardet como exemplo

Ciente de tudo isso, Bardet sabe que há uma lição no seu percurso. É excelente que Seixas já consiga correr com os melhores, mas a decisão de apontar ao pódio de uma Grande Volta, ou até à vitória, deve nascer de si próprio.
“Estou longe de querer dar lições a alguém, mas é preciso pensar o plano de carreira. O mais difícil no ciclismo é manter a leveza. Vemo-lo com Pogacar e o desgaste que talvez se instale durante a Volta a França”, aponta, usando o fenómeno esloveno como exemplo. Mesmo Pogacar sabe quando parar de forçar e fazer uma pausa, ou mudar objetivos para manter a motivação.
Em muito jovem idade, Paul Seixas já subiu ao pódio do Campeonato da Europa ao lado de Tadej Pogacar e Remco Evenepoel
Em muito jovem idade, Paul Seixas já subiu ao pódio do Campeonato da Europa ao lado de Tadej Pogacar e Remco Evenepoel
É precisamente isso que recomenda a Seixas, não deve fazer a carreira girar apenas em torno do Tour (ou de outra corrida), sobretudo se o objetivo se revelar irrealisticamente difícil. “Para lá da pura performance física e da capacidade de melhorar ano após ano, trata-se de manter o fluxo interior que garantirá que o Paul atinja as alturas a que está destinado”.
Acima de tudo, Bardet preocupa-se com os adeptos que já colocam Seixas, de 19 anos, no pódio dos Campos Elísios, sem sequer ter feito a sua primeira Grande Volta.
“Há uma certa euforia que me preocupa um pouco, tendo em conta o nível de exigência incrível para os jovens atletas”, revela. “Hoje, para passarem a profissionais, têm de responder a um patamar de expectativas muito mais elevado do que quando nós passámos. Isso vê-se no nível de performance que conseguem atingir desde muito cedo”.
Bardet prossegue: “É este aspeto, com a carga mental que acarreta, que pode fragilizar a motivação a longo prazo. É preciso encontrar o equilíbrio certo, mas isso é bastante pessoal para cada atleta”.

A chave é a variedade

A variedade no calendário competitivo é crucial. “No WorldTour, fazíamos as mesmas corridas cinco, seis, sete ou dez vezes. Não há variedade. É preciso manter frescura ao longo dos anos para manter o corpo e a cabeça vivos”, sublinha Bardet, explicando como a repetição pode minar o moral de um corredor.
Assim, os próximos anos devem ser um período de aprendizagem para Seixas antes de assumir as maiores responsabilidades. “É bom, nos primeiros anos de carreira, preservar o espanto de descobrir novas corridas, aumentando gradualmente o número de provas em que participa. O Paul tem de continuar a querer viver corridas que ainda não fez, daqui a dois ou três anos”.
aplausos 0visitantes 0
loading

Últimas notícias

Notícias populares

Últimos Comentarios

Loading