"Um dia és batido, no seguinte tens a desforra. É empolgante!" - O lendário Bernard Hinault sobre o seu amor inesgotável por competir em cima da bicicleta

Ciclismo
quarta-feira, 24 dezembro 2025 a 9:00
bernard hinault
Mesmo quatro décadas após a sua última vitória na Volta a França, Bernard Hinault continua a falar de ciclismo com instinto de corredor, não com a nostalgia de uma lenda.
Com a autobiografia de volta às livrarias, o pentacampeão da Volta tem refletido sobre as raízes dessa veia competitiva implacável numa conversa recente com o Ouest-France. Não da glória ou da ambição, mas do puro gosto pelo confronto e pela vingança desportiva que o prendeu à bicicleta.
“No ciclismo, foi sempre a competição que me atraiu. A luta, leal e frontal”, explicou Hinault. “Um dia és batido, no seguinte vingas-te. É eletrizante”.
Essa mentalidade, insiste, nunca o abandonou. E explica porque o bretão começou a ganhar quase desde que prendeu o dorsal.

Vencer primeiro, pensar depois

A primeira relação de Hinault com a bicicleta não foi romântica nem sequer desportiva. Foi prática. Um meio para ir à escola em Saint-Brieuc. Mas a repetição trouxe força e oportunismo.
“Um dia, disse: ‘Pronto, chega, 20 quilómetros de bicicleta por dia não me metem medo’”, recordou. “Yffiniac fica num vale, por isso tens de subir para sair. Ao repetir a mesma saída todos os dias, consegui ficar na roda dos camiões. Foi assim que aprendi a ‘chupar roda’”.
Esse instinto de abrigo e timing passou direto para a competição. A primeira vitória chegou em Planguenoual, em maio de 1971, contra um corredor que todos esperavam ver ganhar.
“Fiquei abrigado muito tempo, até a uma última curva à esquerda onde aproveitei a oportunidade”, disse Hinault. “Mergulhei, acelerei e cheguei à frente do Jean Yves, o claro favorito. Muito obrigado e até logo! Toda a gente perguntava: ‘Mas quem é aquele?’ Levei o ramo para casa, para a minha mãe”.
O padrão repetiu-se. Observar. Esperar. Atacar. Ganhar. “Logo na minha primeira época, em 1971, venci 12 corridas em 20”, recordou. “Foi assim que me tornei profissional. A ganhar corridas. Com o tempo, fui notado. Não há segredo”.

Um corredor que nunca perdeu o fio da navalha

Mesmo no auge, Hinault não abrandou. O vínculo à Bretanha manteve-se constante, regressando sempre que podia e correndo sem descanso em criteriums muito depois de outros levantarem o pé.
“Houve um ano em que fiz 27 criteriums em 20 dias”, indicou. “Chegou a acontecer correr de dia em Montargis e à noite em Saint-Brieuc, viajando de avião entre os dois”.
Essa dureza valeu-lhe a alcunha que o acompanhou para a vida. “No início, era uma alcunha genérica que usávamos no pelotão”, explicou Hinault sobre ‘Le Blaireau’. “Um dia, numa entrevista, chamaram-me ‘o pequeno blaireau’. E ficou. Ao mesmo tempo, assenta-me bem”.
Mais do que uma alcunha, tornou-se o retrato de um corredor que nunca deixou de combater. E ainda hoje, quando Hinault fala de ciclismo, não fala de monumentos ou camisolas, mas da alegria crua e física de correr e bater o adversário ao lado.
Uma sensação que, deixa claro, nunca se desvanece.
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